sexta-feira, agosto 11

Desconfiança onírica

Recostada no canto do quarto, tranqüila, Luana dorme com a cabeça sobre minha calça usada de ontem. De repente enche-me a curiosidade de saber que sonhos se passam por dentro de sono tão sossegado, quieto, pois seria crime onírico que cachorros não sonhassem! Seria descaso imperdoável da natureza, uma falta de senso do criador.
Mas de um jeito ou de outro, contudo, impassível, Luana rosna: uma, duas vezes, outras ainda, e o que intriga é saber se ela está sonhando ou tendo pesadelo. Quer dizer, se está na iminência de confrontar-se com grandes vultos ameaçadores que espreitam o quintal da casa, no ofício da defesa doméstica, ou se está a folgar e rolar na grama com outros de sua espécie... Estes animais reservam quase que exclusivamente para o olhar a ciência da comunicação; a boca... bem, a boca é para o resto. E não digo isso por nada: para se ter uma idéia, depois de velha, ela me passa agora horas a fio mastigando entre os caninos as meias da casa, sujas, pútridas, numa avidez tanto mais encarniçada quanto mais encardidas estejam elas, deixando-as ensopadas, lubrificadas. Talvez seu maior desejo fosse que eu chegasse de cada dez em dez minutos, incansável, com os sapatos encharcados da chuva.
Sem avisar torna a soltar outro rosnado enigmático. Desperta-me curiosidade renovada: seriam minhas meias o motivo da exteriorização de seus sonhos, ou pesadelos?

4 comentários:

tgroba disse...

meu Deus, preciso ter o que fazer...

Anônimo disse...

Rony disse que Luana anda sonhando com ele isso sim, com a sua virilidade ferozzzzz...

Gabriel Carvalho disse...

sabe cara vc escreve pa caralho
eu não sei o que falar não...
mas com certeza vc falava de Luana sua cadela neh?

Anônimo disse...

to com a obra de Machado para você revisar...acho que não vai mais de faltar tempo.