quarta-feira, agosto 16

Guarajuba.

Semana passada, o caderno de Turismo do jornal A Tarde publicou que Guarajuba, km 42, Estrada do Coco, está crescendo, alarga-se, demanda infra-estrutura e principalmente uma delegacia que afugente os alcaides de fim-de-semana. È preciso. A violência é assustadora, correm-se assaltos, furtos.... e, além disso, segundo a matéria, a hotelaria internacional e seu séqüito de resorts, já nas dunas carregando areias, não pode, em vista da grande injeção de capitais, promoção de empregos e fôlego na economia nacional, deixar que seu dinheiro se perca em terras sem lei.
Passei boa parte de minha infância lá. Costas queimadas de água-viva, pé engessado, pontos internos e externos no joelho, beijos, porres...as primeiras marcas da vida tive-as todas lá. Embora houvesse poucas moradas àquela época, mesmo assim, Guarajuba ainda era um covil de casas abandonadas. Hoje não há mais espaço para nada. Parques, praças e motocicletas ocupam o tempo da meninada.
Lembro-me de íamos eu e meu primo Daniel, munidos com os tacos de sinuca de meu pai, realizar rigorosas autopsias nestes velhos lares abandonados. Pulávamos o muro coberto pelo mato sempre à tardinha. Encontrávamos em quase todas elas uma pilha alta de tijolos no quintal de grama alta: talvez um último suspiro de vida, quem sabe, ou apenas um grande palácio de lagartixas, nada mais. Poucas possuíam churrasqueiras, falta curiosa dos veranistas de outrora. Contudo, certa vez entramos numa casa onde, ao lado do caminho de pedras que atravessava o quintal, havia uma lúgubre churrasqueira agasalhada por emaranhadas Salsaparrilhas que desciam até o chão. Perscrutando o triste local, ao lado da parede de azulejos azuis que pareciam sonho, Daniel encontrou um antigo fole deixado onde se depositava o carvão. Passara-me a cutucar com aquela coisa, provocando, insistente. O que, de pronto, tive de responder à altura com meu taco de sinuca. Duelávamos quando, num infeliz instante, ele fez soprar o fole e toda sorte de insetos voou sobre mim como um chuva negra. Foi preciso tirar rapidamente minha camisa e jogá-la no chão. Atônitos, sacudimo-la de um lado pro outro com os tacos para que os bichos fossem embora. Mas ela ficou tão suja que, lembrando agora, dou risada com a desculpa dada em casa explicando que fôramos roubados e que somente levaram minha camisa. Talvez hoje a desculpa soasse mais convincente...

5 comentários:

Raiça Bomfim disse...

"... tantas memorias...adoro isso.Procuro a minha, que é tao escondida...". Taí... Linda aí!

Os jornais estão carentes de textos poético-jornalísticos como este! Porque você não manda para algum deles?

Gabriel Carvalho disse...

eu jurava que esperava um final diferente
eu fiquei surpreendido
eu pensei que vc ia falar da massa

Gabriel Carvalho disse...

ai groba tem um poema seu num blog de um amigo meu
tal http://to-doidao.blogspot.com
é nenhuma?
de uma olhada lah ele botou o endereço do feijoada quase completa e tudo
ta o bicho

tgroba disse...

voce acha que os jornais se interessariam? Ou se a voce interessaria le-los num jornal?
Que bom!
Acontece que tenhos poucos textos 'poeticos-jornalisticos'. è dificil o casamento entre eles.
e tenho tantas coisas com vontade de fazer...
mas legal seu toque!

E voce, bielis, achou que eu ficava invadindo casas pra fumar a massa lá, foi? Era pequeno ainda...

Anônimo disse...

Puta que pariu,de fuder!!! Há muito tempo não tinha um prazer tão grande em ler um texto assim. Que fim do caralho!!! Espero que os palavrões expressem como gostei...