quinta-feira, agosto 31

sobre meus pais

faço presente a minha maneira
meu deus quanta poeira?
menina linda tem um nome
menina feia também tem,
mas o desgaste do meu passado
agora
é só um porém

atos falhos, enganos, passados
certezas encalacradas
saudades dilaceradas
meninas más fingidas
meninas boas também

que vida
meu deus tem mais alguém?
pois se tiver diga que não estou,
mas seja sincero;
o homem de verdade e a mulher também
é só mais uma saudade
como todos os outros poréns

terça-feira, agosto 29

Sol e lua

Caminho apressado pela orla sem fim
Com a idéia fixa de ver minha menina;
E, enquanto ando, longe, o sol ilumina
Um rastro de luz que vem do mar até mim.

Vem como tapete espelhado, qual guia,
Segue a gente, acompanha, mais transporta
Do que propriamente ao mar alumia,
Pois leva pra onde tudo me conforta.

E assim, iluminado, vou me lembrando
Do passado, do atraso, do meu quando
Iria florescer em meu peito amador

O que dos livros eu desconfiava amor.
E então retorno com a luz da lua a brilhar,
Sorrindo seu riso branco a confirmar...

segunda-feira, agosto 28

Astrologia

Li no jornal A Tarde , mas me escapa agora o nome da autora do artigo, sobre uma reunião de astrônomos que dentro em pouco decidirá sobre o futuro de Plutão. Sairá dessa conferência se ele continuará ainda com seu status de planeta ou se seria rebaixado para algo como sub-planeta ou satélite, o que também não lembro. Mas uma coisa ou outra, não importa, o que acho curioso nesses assuntos é a relação que aí existe com a astrologia, tema este do mesmo modo explorado no artigo dessa mulher(fico devendo essas informações--compromisso de historiador!). Sendo mais claro e direto ao ponto, para nao me alongar nessa madrugada, o que mais me inquieta nisso tudo é saber se a "astronomia é filha da astrologia", como disse uma renomada astróloga entrevistada nesse artigo(fico devendo mais essa...), ou se ocorre justamente o contrário, ou nem um nem outro..., sei lá.
Plutao é o astro-regente de Escorpiao, de modo que, se rebaixado à categoria de um satélite, por exemplo, ficaria o mapa astral desse signo meio 'perdido no espaço', meio com angústias existenciais, ou de nada interfere essas nomenclaturas saídas de meros consensos humanos?

domingo, agosto 27

prontamente prossigo pensando,
porque posso pensar prontamente;
provavelmente poderia perguntar:
porque penso pensar piamente?

podemos pensar príncipios,
provavelmente puéris,
palavras puramente prolixas;
pensando prover poderís

pintamos perturbadamente,
pretendendo puras poesias,
pensando provar primazias...

porcarias primorosas,
produzem paulatinamente,
poderosos porvires.

quarta-feira, agosto 23

Duelo de máquinas

A luz vermelha acende,parou,o papel prendeu, embolou, não passa mais,o homem abre a máquina, tira-o, amassa-o,joga fora, põe mais papel, fecha a máquina,liga,uma,duas, três folhas mais saem,parece rendição..., a luz vermelha acende,parou,o papel prendeu, embolou,não passa mais,o homem abre a máquina, tira-o,amassa-o,joga fora,põe mais papel,fecha a máquina,liga,uma,duas,três folhas mais saem,parece rendição...,a luz vermelha acende,parou,o papel prendeu,embolou,não passa mais, o homem...que inferno.

terça-feira, agosto 22

soneto a moda antiga

é que sou assim mesmo pequeno
e penso que sou desajeitado
sentidos impostos em seu passo lento
vivo sereno até sua chegada

não me ame quando eu não mais quiser
no fundo eu só quero achar
sentir a tarde ao anoitecer
e o mar quando você não mais me aguardar

serenamente acalme-se baixinho
mais baixo que o nosso amar
mas ama-me de fininho

afinal as coisas boas que acontecem
não são só no ínicio do caminho
e sim no seu mais tardar
"Crer é errar, não crer de nada serve."

Ricardo Reis.
(Por falar nisso...)

domingo, agosto 20

fernando pessoa

Das inúmeras tentativas de se compreender a figura poética de Fernando Pessoa, esse poema de Dummond me pareceu a que chegou mais perto, dispensando toda uma livralhada acadêmica sobre ele.

SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.

Drummond tem um domínio tão íntimo da técnica que, se nao soubesse que esse poema era dele, diria que pertencia a Fernando Pessoa!
Está em seu livro 'Claro enigma', dedicado(se nao me engano)ao próprio Fernando Pessoa.

quarta-feira, agosto 16

Guarajuba.

Semana passada, o caderno de Turismo do jornal A Tarde publicou que Guarajuba, km 42, Estrada do Coco, está crescendo, alarga-se, demanda infra-estrutura e principalmente uma delegacia que afugente os alcaides de fim-de-semana. È preciso. A violência é assustadora, correm-se assaltos, furtos.... e, além disso, segundo a matéria, a hotelaria internacional e seu séqüito de resorts, já nas dunas carregando areias, não pode, em vista da grande injeção de capitais, promoção de empregos e fôlego na economia nacional, deixar que seu dinheiro se perca em terras sem lei.
Passei boa parte de minha infância lá. Costas queimadas de água-viva, pé engessado, pontos internos e externos no joelho, beijos, porres...as primeiras marcas da vida tive-as todas lá. Embora houvesse poucas moradas àquela época, mesmo assim, Guarajuba ainda era um covil de casas abandonadas. Hoje não há mais espaço para nada. Parques, praças e motocicletas ocupam o tempo da meninada.
Lembro-me de íamos eu e meu primo Daniel, munidos com os tacos de sinuca de meu pai, realizar rigorosas autopsias nestes velhos lares abandonados. Pulávamos o muro coberto pelo mato sempre à tardinha. Encontrávamos em quase todas elas uma pilha alta de tijolos no quintal de grama alta: talvez um último suspiro de vida, quem sabe, ou apenas um grande palácio de lagartixas, nada mais. Poucas possuíam churrasqueiras, falta curiosa dos veranistas de outrora. Contudo, certa vez entramos numa casa onde, ao lado do caminho de pedras que atravessava o quintal, havia uma lúgubre churrasqueira agasalhada por emaranhadas Salsaparrilhas que desciam até o chão. Perscrutando o triste local, ao lado da parede de azulejos azuis que pareciam sonho, Daniel encontrou um antigo fole deixado onde se depositava o carvão. Passara-me a cutucar com aquela coisa, provocando, insistente. O que, de pronto, tive de responder à altura com meu taco de sinuca. Duelávamos quando, num infeliz instante, ele fez soprar o fole e toda sorte de insetos voou sobre mim como um chuva negra. Foi preciso tirar rapidamente minha camisa e jogá-la no chão. Atônitos, sacudimo-la de um lado pro outro com os tacos para que os bichos fossem embora. Mas ela ficou tão suja que, lembrando agora, dou risada com a desculpa dada em casa explicando que fôramos roubados e que somente levaram minha camisa. Talvez hoje a desculpa soasse mais convincente...

terça-feira, agosto 15

Marco o tempo
passo
faço o erro escrito
enlaço
com marcapasso
o espaço em que desenho

É meu desenho?

No meio do caminho
enlaço
O espaço escrito entre passos
Me esqueço do caminho passado
E me passo com mal passo
mas me enlaço no teu laço
e esqueço meu desejo

passo no teu passo?
piso no teu piso?
escapo,
mas retorno mal passado
pro enlace do teu voô

domingo, agosto 13

Há sempre um sentido mudo
Há sempre um sonho calado
Há sempre um "estar ao teu lado"
Há sempre um sempre será

Há sempre um sempre na vida
E a vida um sempre será
Até que outro sempre prossiga,
pois pro sempre, sempre será

sexta-feira, agosto 11

Desconfiança onírica

Recostada no canto do quarto, tranqüila, Luana dorme com a cabeça sobre minha calça usada de ontem. De repente enche-me a curiosidade de saber que sonhos se passam por dentro de sono tão sossegado, quieto, pois seria crime onírico que cachorros não sonhassem! Seria descaso imperdoável da natureza, uma falta de senso do criador.
Mas de um jeito ou de outro, contudo, impassível, Luana rosna: uma, duas vezes, outras ainda, e o que intriga é saber se ela está sonhando ou tendo pesadelo. Quer dizer, se está na iminência de confrontar-se com grandes vultos ameaçadores que espreitam o quintal da casa, no ofício da defesa doméstica, ou se está a folgar e rolar na grama com outros de sua espécie... Estes animais reservam quase que exclusivamente para o olhar a ciência da comunicação; a boca... bem, a boca é para o resto. E não digo isso por nada: para se ter uma idéia, depois de velha, ela me passa agora horas a fio mastigando entre os caninos as meias da casa, sujas, pútridas, numa avidez tanto mais encarniçada quanto mais encardidas estejam elas, deixando-as ensopadas, lubrificadas. Talvez seu maior desejo fosse que eu chegasse de cada dez em dez minutos, incansável, com os sapatos encharcados da chuva.
Sem avisar torna a soltar outro rosnado enigmático. Desperta-me curiosidade renovada: seriam minhas meias o motivo da exteriorização de seus sonhos, ou pesadelos?

segunda-feira, agosto 7

Hpótese absurda:primeiro Ìpslon?

Circula pela internet um jogo de passatempo que me fez lembrar Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Não que eu queira fazer-me profeta, e muito menos pertencente aos de linhagem pessimista, não: esta hipótese absurda serve apenas como registro curioso e inquieto, nada além disso.
Mas o que quero dizer é que este passatempo é uma espécie de distração apavorante, indigesto, um puzzle macabro mesmo! Pois o joguinho prende a atenção do internauta ao exigir-lhe a mais religiosa concentração e silêncio na tarefa de levar um pequeno ponto por entre passagens estreitíssimas em direção ao seu destino. È simples e petrifica o olhar no computador. Acontece que em certa altura, fatalmente, de maneira abrupta e estridente, surge na tela a figura do cão encarnado, do demo em pessoa. O susto é inevitável, é traumatizante.
No livro de Huxley, os bebês gerados em incubadoras, tipos de placentas artificiais, são submetidos a sessões de condicionamento emotivo e classista. Durante uma etapa desse processo, os nascidos que estão predestinados a servir nas classes mais inferiores, os chamados Ìpsilons, são induzidos a engatinharem na direção de rosas e livros. Mas quando eles chegam perto o suficiente, quase que os tocando, as crianças levam choques elétricos seguidos de gritos ensurdecedores. Dessa forma criar-se-ia então um bloqueio para sentir e pensar: e assim a estabilidade da sociedade estaria livre de possíveis conturbações que viessem de classes subalternas.
Pois que, assistindo a um vídeo que registrara a reação de um garoto de 5 anos ao tal puzzle macabro, lembrei desta cena apocalíptica criada por Huxley. Talvez uma comparação incoerente, sem pé nem cabeça, mas o susto que a criança levou deixara-a estática, muda, sem reação e certamente, ou será absurdo, mergulhada dentro de um trauma que lhe poderá cortar boa parte de sua personalidade emotiva e civil, quem sabe.... Premonição de um Ipsilon?

domingo, agosto 6

felizes, inocentes, ignorantes,
juízes, dementes, farsantes:
somos uma espécie em ascenção.
e quando formos reis
não haverá sombras ou dúvidas
mentiras ou verdades
orgulho ou remorso
por trás de discursos vazios...

quando formos deuses
todos terão pavor das palavras
que distraidamente concedermos.
e dentre as chamas e o caos virulento em que mergulhará o mundo
não haverá outro motivo para rir.

dá me logo um beijo, meu amor,
acaso existe, em algum lugar,
miséria mais afortunada que a nossa?

sexta-feira, agosto 4

“De um momento para o outro minha vida foi assaltada por indescritíveis blogs*.”
*blog , s. Espaço restrito para um mundo. (Quim.) Metabolismo emotivo compartilhado com o teclado. (Anat.) Disjunção óptica relacionada à exposição prolongada diante do computador. (Bot.) Mangueiras que dão frutos no inverno. (Psi.) Transtornos criativos em estado virtual. (Mat.) Primo distante do log. (Liter.) Só o futuro dirá.

terça-feira, agosto 1

Poeminha idiota de última hora

A sorte passou por mim
Apontou-me um caminho
era contramão
ia dar em multa.

Anadora Andrade