segunda-feira, dezembro 25

é uma mudança, uma curva brusca e um cotovelo histórico. a vida se faz assim como se estivesse sem planos, a não ser de interromper e modificar todos os planos anteriores. a vida se faz a gosto e contragosto de uma aspereza indescritivel, sorrisos transbordantes e lágrimas... e a medida que passa, transmuta, germina, nasce toda nova manhã, inaugurando o céu.

o que é uma essência para algo que nasce no ocaso de si mesmo, na paradoxalidade de uma existência finita e "consciente"?

sábado, dezembro 23

soneto da praia sem mar

beiro a ponta do barco sem vela
que me traz à sua praia sem mar
e nesse balançar das caravelas
que me atraquei à te procurar

procuro-te nos mais escondidos lugares
em hequitáres longínquos e enebriantes
tanto a beira do oceano ídilico
quanto aos planos de planaltos estanques

e espero que haja uma hora ínfima
em que eu me arvóre a te achar
nestas terras de beleza infinita

onde espero conseguir te encontrar,
antes de perder-te em hora infinda,
com um bicho (quem sabe?) à te devorar

quinta-feira, dezembro 21

Não volte

Ah, capitão de longo curso,
solitário centro
na auréola do horizonte
que,com navalhas de alísio,
realizais a necropsia
do imorredouro oceano
em busca de flores caídas
em jardins abissais!
Vós, que carregais um coração
despelado pelo sol,
lembrança em formol
do que ficou no cais;
que guiais sem timão
sem sequer olhar para trás,
aonde vais assim negando
a natureza de vossos ancestrais?
Para onde?
Estais perdido, singrando
por entre latitudes
de periecos sem estrelas,
sem norte, errando sobre as vagas
sem espumas do oceano,
como se dessa ausência buscásseis
a calmaria da montanha tibetana.
Que procurais?
Não achastes em aniversários em terra?
Duvidastes da pessoa
por trás do olho mágico?
O florista não arrancara
os espinhos ao vender-lhe a rosa?
Ah, sois muito fraco!
E é difícil dizê-lo, bem sabeis.
Não te quero, capitão.
Morra no mar, só,
O sal lha fará bem.

quarta-feira, dezembro 20

viva maria aparecida!

-campanha natal sem deputados-

domingo, dezembro 17

mito do porvir

Vem surgindo no fim do céu
uma ponte entre nós e o mundo
mas é turvo o encanto que vai
sempre ao léu, verdejar a fundo

Mas o preto velho já dizia
de que nos vale atravessar?
são tantas mentes, ousadias...
será um sonho a mais há acabar

Logo que o dia raiou no outono
surgiu a ponte da nova dor
que no fim de um dia longo
fizeste nascer uma nova flor

mas o amanhã nunca foi ontém
e nem nunca será...
e no fim do proximo inv(f)erno
como sempre hoje será

sábado, dezembro 16

embora passeiam meus olhos
duma caixa para outra
caem, como que dançassem,
e dançam, como que caíssem...

são as areias amareladas da minha juventude
poentes de sentimentos ambíguos
afogando-se em dúvidas.

feito em limo,
bem verdade,
feitiçado pelo vento e coberto pela aurora
andavam minhas corrupções pelo orvalho,
meu humedecer corrosivo
desfazendo-se pelas ondas...

quase parnasiano

Hoje estou parnasiando
e só rimo emparelhando
e os meus metros diretos
são como oasis desertos

palavras como palavra
já não valem minha lavra
e a paisagem nas sacadas
estão nessas rimas pardas

hoje sou metrificador
não mais tranquilizador
e tenho assumido discursos
enquanto rios vão aos refugos

meus versos tem sido ilesos
mas não por isso andam presos
em versos parnasianos
rimas, metros, enganos

quinta-feira, dezembro 14

O dobre dos sinos
O tropel dos cavalos
A bulha das oficinas
Que anunciam?

Um coração magoativo?
Enriquecido de urânio?
Uma caneta sem tinta?
Que noite se esfria?

O mar sem marulho
Uma concha sem mar
O amor sem ódio
Que lágrima se estia?

A já chorada?
A já orvalhada?
Ou a não lembrada
De se chorar ainda?

terça-feira, dezembro 12

A loucura

Foucoult já nos deixou bem claro quanto ao estatuto da loucura. Se nos perguntassemos quanto a estrutura de sua linguagwem sua resposta não seria tão clara, mas falamos de loucura , portanto qual seria o ser que nela se faz? Seria a loucura um ente?
E heidegger a filosofia se faz pela interpelação do ser do ente que se procura. é uma filosofia que, a meu ver, acaba por ser taoísta, pois se concentra no significado independentemente da razão(e também por ser existencialista) se manifeta no sentir, no significado do ente que se manifesta. Mas não seria a filosofia a guarda da ratio? Pois bem, veremos o que a ratio é(que ente é este: razão) para a filosofia.

O que é a ratio em seu modo-de-ser para a filosofia

De cara percebemos que "o ser se manifesta em varios sentidos", como havia sido assinalado por aristoteles, logo este ente ente que apareceu em nossa investigação deve ser delimitado em sua finalidade, no para-o-outro, o que a ratio é para a filosofia. Tal razão nos aparece velada. Primeiro por termos delimitado o que é filosofia, e segundo por não termos em mente o significado da filosofia através dos tempos. Devemos parar em heiddeger, será o ente em seu modo de ser que a filosofia procura?
A esta pergunta não temos como responder conceitualmente, Simplesmente perguntaremos, o que é o ente?
Tal resposta cai num paradoxo. Pois se o ente é deveriamos nos perguntar o que é o ser nesse sentido, mas se "o ser se diz em varios sentidos", diremos, que se ele for se dirá(revelará) em varios sentidos também. Assim um ente abarca uma pluralidades de sentidos em seu modo-de-ser, mas isto não responde a pergunta (o que é o ente?). Ai retrocederemos e perguntaremos "certo, 'o ser se diz em varios pontos'. mas o que é o ser? A isso os filosofos responderam de varios modos através dos tempos, mas em que sentido o ser do ser mudou? Na ação crítica no ato como formação ulterior a potência, na revelação deste ente que é o Ser em sua manifestação filosofica. Pronto descobrimos o que é o ente: um sentido arraigado que produzem atos, para além dele mesmo que se diz em varios sentidos. Assim o ente não(apenas como negação, oposição)
é como essencia, mas no ser criado que ele se manifesta, na ulterioridade, no ir-além. Heiggeger deixou isso bem claro quando cita o her panta de heraclito e na interpelação pelo ser do ente que se manifesta(velado)mas ele coloca o logos como leitgein (recolhimento), como busca da essência ao mesmo tempo que diz "sendo-é", assim o seu projeto historial se revela na manutençãodo passado grego na filosofia.
Heiddeger em sua soberba auto-suficiência não metafísica funda a metafísica do significado. o Ser em heiddeger (não o dasein) é uma re-revelação de um significado passado. ele esquece do sentido variado que o ser produz . Em sua busca pela filosofia promordial esquece-se de aristoteles., em sua indefinição do ente que o interpela no seu modo-de-ser, ele busca a essência, mas o ente não o interpela no, mas por um modo-de- ser(que nem sempre é dado pelo filosofo ou qualquer investigador).
Pois bem respondido o que é o ente resta ainda a duvida, o que é o ser? o ser como o é em sua ulterioridade, mas em essência, não temos como responder. Primeiro por não saber o sentido em que se diz essência e segundo por saber que só se é sendo, mas isto não responde a pergunta.
Assim podemos voltar com algumas impossibilitações o que é a ratio para a filosofia, Sendo esta um ente, esta só o será sendo e seu modo-de-ser será dado pelo filosofo. Assim a filosofia não é a guarda da ratio, mas esta o é em algumas filosofias(deveria ser proibido falar de filosofia no singular). E o engraçado é que heiddeger é um dos fomentadores da retiradada razão como rainha da filosofia, trasnsporta para o significado. Que nem sempre ou quase nunca se produz no seio da razão.

Retorno a questão inicial

Pois bem, a loucura em seu modo de ser não se processa. Acaso a loucura tem um modo de ser?Acaso ela é um ente? a segunda digo categoricamente: sim, ela o é na medida em que é produzida(nomeada) pelo filosofo(ou qulaquer um que a nomeie), mas a primeira só pode ser respondida na medida em que se queira uma não resposta(não repositare), POIS UM MODO IMPLICA EM ALGO DEFINIDO E A LOUCURA É INDEFINIDA, assim a loucura não é em modo, mas em sua antitese ela é justamente a quebra dos modos. A isto foucoult chama de estatuto da loucura, mas ele o faz como outro e assim não define um modo de ser da loucura e sim a faz numa interpretação subjetiva no viés kantiano, (que se interpõe a objeto[e tem como fazer de outra forma?]) ele não a faz de dentro dela por isso não à apreende em sua multiplicidade. Mas apreender a loucura em sua multiplicidade apenas sendo-a? assim a filosofia da loucura só eé possivel esquecendo-se a razão?
aviso importante: neste mirante não é permitido rolar na grama
(sem convidar os outros)

segunda-feira, dezembro 11

campanha reestabelecida

é que a pouco tempo,
não batia muito bem
o medo de qualquer coisa
fazia minha cabeça ôca
rezar por cartilhas do além

é que a pouco tempo
minhas rimas não eram remedio
de minha loucura intempestiva
e eu, que não me bastava,
fazia besteiras com as coisas da vida

e não faz muito tempo
que a minha cachola voltou a girar bem
e eu, que ainda não me basto,
voltei a versar também

sábado, dezembro 9

estudando para prova de filosofia da linguagem


certamente que existe ainda mto a se dizer acerca do caracter social dos conceitos, mas estar a imaginar situações objetivamente determinantes de uma verdade intersubjetiva, constituirá assim um progresso tão grande?
não estaremos tentando superar o cartesianismo através da realização de um projeto que este mesmo foi incapaz de fundamentar?
afinal, o que é mais apelativo, afirmar a subjetividade a partir da idéia de Deus ou a intersubjetividade pela noção de linguagem?

então é isso... regularidade, semelhança, verificação...
essa formula lhe parece nova?

(nunca acredite em quem tiver que criar uma termologia para justificar seu pocionamento.)
os conceitos são sociais, sim, por favor... mas seria este o motivo de sua segurança?
estariam eles em algum departamento público? Ou então em domínios virtuais?

acho que tem é um aqui dentro do meu sapato, incomodando pra caralho.

quarta-feira, dezembro 6

eu e minhas formigas
estavamos de férias
a poesia era (só) uma frase
ecoando na minha cabeça
em busca de sentido

a lápis, ela disse,
são as piores.
não importa quantas páginas
quantos nomes, onde,
meus olhares se apagaram:
estou, imerso, azul escuro,
numa estrela cadente...
mas não são lágrimas que me faltam
(por favor...)
adoraria ser um pouquinho mais burro...
minha sabedoria vem do chão
e pesa mais do que chumbo.

rimas matreiras

o poeta verceja e mente
a cada vez que de contente
acha palavras que alimente
a rima que lhe faltava

o poeta verceja e errra
a cada vez que recomeça
a tentar sem inspiração

e o poema sai-se contente
quando o poeta sai sorridente
por ter aclamado a poesia
que feliz, até lhe sorria
e ainda lhe perrmitia
deita-la à seu papel

poesia bondosa e sedosa
que como mulher manhosa
se faz de facil no começo

terça-feira, dezembro 5

sons entrecortados

artearoeira
novaclareira
terapiautomovel
imovel

glauberocha
laureadogma
incomposta
nãoposta

ciocriacionista
erâtomica
heideggeitlerista

incontestacionalmente
insensatocional
simplesmente

sexta-feira, dezembro 1

Minha menina

Logo Deus mata a sede
E a maré esvazia
Ela corre à praia
Pra se maquiar de sol.

Sobre a areia se deita
Para o retoque à lápis
Ultravioleta nos olhos,
Lábios, pernas e batatas.

A pele se vai pintando
Num tom acasulado
Até atingir o brilho
Quente da crisálida,

E, à noite, vem o vento frio
Bater na cama aquecida
Pra despelar os desejos
Da borboleta na menina.
não tem como ser
nada que não possa
no fim o dia acaba:
é só uma hora torta

e o cão é meio chato,
mas chato é só discordia
e se o cão vier aqui
lhe dou trago de fumo de corda

sábado, novembro 25

a menina sem nome(que sequer lerá)

nomes de pessoas
são difíceis de gravar,
no momento exato,
como o mês de março,
quando lá tem carnaval

na determinada situação
em que se faz nescessario
ter já em mente a palavra certa
que desperta um poema
mesmo sem papel,
afinal,
arte sem vida
é pintor sem pincel,

mas é do nome que falo,
e ainda escrevo,
tentando me lembrar;
do nome que havia
e me permitia
viver a poesia
que fiz à te desejar

felicidade e paz

quarta-feira, novembro 22

Sair, verbo intransigente.

Quando saímos de si,
Saímos pra algum lugar,
Na busca de que por aí
Achemos a nos encontrar.
Porém o verbo sair
Não se aceita completar,
Guarda-se dentro de si,
Em nós, no mesmo lugar.

sábado, novembro 18

Eu e tantos.

Os outros me são eu, de longe, tranqüilo, intocável.
Sou uma fêmea com fecunda prole de mim extraviada pelas ruas.
Uns maduros, alcoólatras, românticos, outros tristes, alegres,
Folhas de caderno avulsas nos bares:
Folhas caídas de meus invernos de menino.

Comia palavras na redação.
A pró era severa: não serás entendido, Tiago. Não se esconda!
As pessoas não têm tempo para adivinhar o que escreve!
Mas eu tinha fome, de mim.
E comia todas as palavras,
me consumia,
me escondia,
quieto,
nos outros.
Hoje como frases, períodos, parágrafos inteiros de mim.
Tranco-me em mim mesmo:
Sou eu e ainda sou alguém,
Não sei mais quem sou,
Em mim nem em ninguém.

sexta-feira, novembro 17

à santos groba

aos versos que hoje faço
em muito devo a ti
que de tantas conversas resolvi começar a escrever bem.
de certo que comecei a escrever em tenra idade,
Quando em sarais improvisados fui forçado a fazer versos,
mas acontece que tomei gosto

E tendo tomado gosto, encontrei bons poemas
onde esperava menos encontrar, nesta altaneira loucura infantil,
que só ver coisas boas em lugares distantes...

Nos teus versos maduros,
de quem escreve mesmo antes de ter começado a escrever,
ví poemas que não esperava encontrar em pessoa de viver aluado
e barba jesuítica(pelo menos têm em comum o gosto pelo vinho)
e andar encurvado.

Seus poemas que mais lembram melancolias profundas
que nos entretem mesmo com sua graça medonha,
Suas comedias in-versos que nem sempre me fazem dar risada,
Suas prosas casuais que hora ou outra leio no mirante...
Mas é nos teus versos mais melancolicos que está sua poesia, versador,
e nos teus poemas conjuntos com Anadora...(Sem querer te complicar)

Nem perco meu tempo analisando-os,
criando, sobrepondo ideias minhas e dando justificativas,
os versos só são verdadeiros quando lidos casualmente
sem entregar-lhes sentido lato
e muito menos na preocupação se são- ou não - parnasianos...

vercejar bem é um dom a poucos ofertado,
e vale muito mais que um masso de cigarro

dicionário da madrugada

Astrolábio: medidor dos lábios dos astros.

quarta-feira, novembro 15

onde andaras bone

tem certos nomes
que eu olho no blog e me pergunto:
pa que diabo vieram aqui...
como diria zeca baleiro:

"até maricota
desviou a sua rota
desligou sua toyota
e caiu no drumembeis"

ou qualquer coisa do genero

quinta-feira, novembro 9

Poesia costurada no vento.

Gostaria de escrever uma bela poesia agora.
Mas estou cansado. Não sai nada. Vou dormir.
O sonho talvez ajude.
Se não ajudar, amanhã começarei de onde parei,
do nada.

segunda-feira, novembro 6

não entendo as pessoas do meu tempo. para elas, poder ouvir as vozes de seus antepassados num aparelho de cd é a prova cabal de que seus espíritos não co-existem conosco, como que pairando no ar. o que elas esperavam, um holograma divino? porque todos ficam procurando a magia em alguma certeza materialmente reproduzivel? de que adianta tantas esperanças na mais promissora (e talvez assutadora) de todas as eras? O segredo, é que aquele que não se permitir o sono nunca alcançará a vigilia. a onisciência é uma estupidez.

domingo, novembro 5

Segundo mapa, a Chapada Diamantina é o umbigo da Bahia.

sexta-feira, novembro 3

contradição?

Humanizar os poetas é tirar-lhes os nomes e dá-los aos nossos cachorros.

domingo, outubro 22

Parece muita loucura que as maquinas venham a dominar a humanidade?
Toda aquela historia de inteligencia artificial e a raça humana dominada, dependente e escravizada...besteira...
O que me irrita é pensar que nem foi preciso essa dita inteligencia para que ela enfim nos dominasse.
Olha eu aqui em frente ao comutador!
E seu celular tocando, atende ai pra ver quem é!
A TV, a geladeira, o DVD...
Voce vive sem ela???
Ah! A maquina
Ah! A tecnologia
Ah! Esse dito progresso...

terça-feira, outubro 17

Segunda independência

Será que agora o Aeroporto tornará a se chamar 2 de Julho, data símbolo de nossa independência aos portugueses, quando finalmente o coronel Madeira de Melo tombou nos campos de Pirajá? Pode ser, mas fica ainda uma outra data a ser avaliada, uma independência mais recente, a de 1 d outubro, quando outro coronel finalmente caiu....

quinta-feira, outubro 12

Uma velha história

Os povos
Que povoaram
Os povoados
Despovoados
Não se entendendo
Tenderam
A tremendos
Desentendimentos
E divididos
Dividiram
Os dividendos
Em divisas
Cerceadas
Certamente
Por certos
Desacertos
-
Até o tempo
Das tensões
Intensificarem-se
Tanto
Que o frenesi
Sobre as fronteiras
Fraudadas
Foi a fresta
Da nomeação
Dos não mais
Nômades
Por monarcas
Que ungidos
Regessem
As regalias
De regime régio
-
A língua
Liquefez-se
Em linfa
De linhagens
Absorvidas
No absurdo
Abstrato
Do absolutismo
E vieram eras
De erários
Heráldicos
Erigind0
Avassaladora
Vassalagem
Aos vorazes
Vizinhos


Às cidades
Ex-servos
Seguiram
Soerguendo
A encolhida
Economia
Em contas
Continentais
E dos burgueses
Borbulharam
Aos borbotões
Bacharéis
Liberais
Libertinos
Iluminando
A liberdade
-
E incontidos
Construíram
Uma constituição
Consagrando
A inalienável
Ilusão
Sem limites
Da Lei
Donde os istas
Socialistas
Anarquistas
Capitalistas
Descamaram-na
Em disputas
Desorientadas
De ordem
-
Autoridades se
Auto-autorizaram
Autores
De átomos
Emboscados
E emborcados
Em bombas
Nos bombardeios
Incessante mente
Insones
E insensíveis
Em solo
Dos povos
Que povoaram
Os povoados
Despovoados

segunda-feira, outubro 9

Ah, Vinícius...

A um passarinho

"Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!"

V.M.

Herois e Heroidades

inaudivelmente
repleto-me de aventura
atos, porcos imundos, espreitam-me,
mas ainda assim prossigo

Em cima, projeto meu forte braço
em rostos aflitos, mas maldosos
- sejam burgueses, ladrões, assassinos ou
donas de colégios stalinistas-
e vejo suas faces esfacelarem

quase rapido e inteiramente leve
pulo de copa em copa a procura
do fugitivo,
Em vão. O descubro dentro de minha casa
o mato?
não, diz meu coração. E por piedade o obedeço.

Mais a frente
projeto meu sonho no coração das crianças
e digo que no final há esperança

mas e daí?
retorno a meu quarto e minha cama...
E sozinho digo a mim mesmo
que, na verdade,
não sou Robin Hood

quinta-feira, outubro 5

ah! Essa tal verdade ainda há de matar, se antes não me levar à loucura.
Por que tinha que ser tão cruel?
Tu verdade, tira meu sono, minha paz, minha alegria.
Me persegue noite e dia

E me fere aos poucos
Em pequenas doses
Rir-se de mim?
Deve-te ser mais divertido assim
Posto que de vez, talvez não pudesse suportar.

Há não muito atrás
Pedi por ti senhora
Que agora me devora
E não me deixa em paz

Poderá o que mata curar?
É do veneno da cobra que se tem o antídoto para sua mordida.
Qual o antídoto da verdade?
A mentira?
Ou a não-verdade?

terça-feira, outubro 3

Uma piada

Voltando do colégio, o menino não aceita a tarde para estudar. Dorme derreado na cama. A mãe:
--Levante!Vamos, trate de estudar!Saia dessa cama!Já disse, basta somente reler agora o que foi passado na sala de aula.Por exemplo, hoje, o que você aprendeu?
--O que é um nematelmíntio.

segunda-feira, outubro 2

"Procura da poesia"

De súbito ele teve a idéia de um poema para sua namorada. Achou-o bom, nutriu esperanças, porém repensou antes de ir sentar-se à mesa para ver se outras assomavam ao seu encontro. Poderia ser dessas de se matutar na cabeça mesmo, em pé, cotovelos na janela do apartamento. Uma fina fatia da lua se insinuava para a noite, desabrochava. A coruja da rua, cautelosa, escondia-se por entre a copa da jaqueira. Sabia que os cavalos que comiam grama no terreno baldio intimidavam sua presa. Latidos de cachorro ecoavam, renitente. Ele não via muito sentido naquilo, mas ao menos esse cenário lhe era mais inspirador que o retângulo da mesa gasta: parcos recursos para sua menina. Acendeu um cigarro, esse amigo da poesia, pensava—as baforadas brancas rapidamente diluíram-se na escuridão em ligeiras névoas. Sem pensar, foi à cozinha, abriu a geladeira, meditou um momento, imóvel. Segredou nicotina gasosa para dentro dela sem sequer notar e a fechou em seguida: a imaginação esfriou. “Como que as idéias são feito quiabo, escorre por entre os neurônios”, concluía—já nem lembrando mais de que se tratava. Voltou para a janela do quarto. Teve de se esforçar para ressuscitá-la, para resgatá-la do labirinto lírico em que estava perdida: ela voltou não explicando de onde; e para sua surpresa retornou amigada de outra, um par, um casal, pronto para gerar uma fecunda prole. Ele entusiasmou-se!, seria uma linda poesia para sua namorada! Mas moderou seu contentamento, conservou-se ainda na busca da palavra perfeita, da imagem azul, do perfume almiscarado, ela merecia, as pernas dela lhe eram imperativos poéticos. A vontade era de pegar um ônibus e arremessar-se em seu corpo e queimar-se abraçado em suas coxas abrasadas, perdido no calor da inspiração que chegava...que vinha, que estava perto, bem perto....cheiro bom. Entretanto, sem explicação convincente, novamente abrandou seu entusiasmo. Não queria acordar pela manhã e perceber que a poesia não lhe agradara. Isso lhe dava medo, angústia, diminuía tudo a sua volta. E sua namorada, que pensaria!?Seu pai entrou no quarto, pedira-lhe que trocasse o gás do fogão, queria comer o carneiro de ontem, e que depois fosse pegar o garrafão de água lá embaixo, no carro. Quebra abrupta da realidade: fez tudo que lhe pedira o pai sem pensar em mais nada: metáforas, coxas, corujas, mesas gastas e o resto retomaram seu lugar, mas sem saber o amor lhe corria pelo sangue...

CArlos Drummond de Andrade

No inicio o mundo era turvo
e deus disse
faz-se Drummond
e a poesia veio para desinturva-lo

Fauna é minha colega de sala
tão bonita e dura face.
Bocas carnudas, labios rosados
amor feito a ferro
- e fogo também-
amor de trás das paredes
em lugares obsequiosos
e bastante escondidos.

Ainda hei de fazer

No dia do nascimento Drummoniaco
Poesia nada era humana e Brasil
nada era belo
românicos, parnasianos, cadeiras, mesas
Papel concreto.
Alvaro de campos?
morto bunclaclaclac
martelo.

Faz-e ciência, rezas, presas e filosofia,
mas poesia!
Está morreu com Drummond.

E de que adianta?
nascem-se novos poetas
novos pelés e novos meio-dia´s...
a cada instante
dura perda nasce em estanque
e estancada há de ficar.

domingo, outubro 1

é bem verdade:
sinceridade não agrada ninguém.
mas gostaria de atingir-lhe
com a profundidade de meus sentimentos
por puro sadismo...

terça-feira, setembro 26

João Cabral de Melo Neto

Duas poesias de talvez o maior de nossos poetas.E duas poesias destinadas a outros dois poetas de igual grandeza.

O PERNAMBUCANO MANUEL BANDEIRA

Recifense criado no Rio,
nao pôde lavar-se um resíduo:
não o do sotaque, pois falava
num carioca federativo.
Mas certo sotaque de ser,
acre mas não espinhadiço,
que não pôde desaprender
nem com sulistas nem no exílio.

RESPOSTA A VINICIUS DE MORAES

Não sou um diamante nato
nem consegui cristalizá-lo:
se ele te surge no que faço
será um diamante opaco
de quem por incapaz do vago
quer de toda forma evitá-lo,
senão com o melhor, o claro,
do diamante, com o impacto:
com a pedra, a aresta, com o aço
do diamante industrial, barato,
que incapaz de ser cristal raro
vale pelo que tem de cacto.

Vejo os poemas de Cabral como pedradas.O mestre das pedradas.No título de seu primeiro livro, Educação pela pedra,é possível que ele queira mostrar isso. Mas esses poemas tirei-os de um outro livro seu, Museu de tudo. Atualmente para mim tudo é Joao Cabral,e por isso nao pude deixar de postar estes dois excelentes poemas.
é isso pessoal!

domingo, setembro 24

Quem pergunta quer saber...

Hoje é aniversário de Groba, vinte e quatro anos no dia 24! Eis que o comentário em nada engrandece este blog tão sortido de poesia, filosofia, conto, crônica. No entando eu não poderia deixar passar em branco tal constatação! A partir de hj será que Grobento jogará no meu time?


Feliz aniversário!!!! Bora comer essa água e lapidar a poesia já escrita dentro de nós!


Ana

quinta-feira, setembro 21

Província Láctea

--O Céu não pode mais ficar nesse vai-não-vai, nesse casa-não-casa, dizia uma das primas Anéisaturno, mesmo sendo de distante parentesco, sobre a conduta titubeante de tal ente cá na terra. –Já enamorou e esqueceu da Lua, naquele caso confuso, está lembrada, não? Depois o amor foi-se embora, o Céu se separou dela, passou um tempo deprimido, literalmente baixo astral, mas atualmente está noivo das Estrelas e não faz muito soube que anda por aí se esfregando com umas tais de Nuvens!—tabelava, indignada. –Dizem até que é caso antigo. Não sei não, viu. E outra coisa: você sabe qual o estado natural dessas Nuvens?
--Ouvi dizer que eram gasosas, mas desconfio que sejam na verdade sólidas. E então imagine você!, pôr em risco um matrimônio com as Estrelas em troca de sólidos!—lamentava a mais corporativa delas.
--Pois é...mas o fato é que ele desde moço sempre foi namorador. Fico a lembrar desse caso espichado que teve com a Lua, pensava até que ia sair casamento. Anos luz atrás, não me esqueço, o Céu punha pressa nas rotações pra chegar logo o anoitecer! Ah, e se a Lua se encontrasse cheia, com as estrelas ofuscadas, era logo aí que a madrugada se arrastaaaava... ,enchendo de coragem as declarações de amor dos terráqueos. Namoro que durou, corrija-me se estou enganada, para mais de milhões de anos em translações satúrnicas, não foi mesmo?
A sua prima aquiesceu. Acrescentou, entretanto, que a coisa começara a desandar quando o Céu dera para implicar com as inconstâncias da Lua. “Você muda ao sabor das marés!”, destemperava, fazendo-se ouvir anos-luz de distância! E, como não bastasse, quando a ciumeira dela com as Estrelas teve início, não houve outro jeito: tudo terminado entre os dois, completou.
--E logo depois veio as Estrelas e cá estamos presenciando um noivado que vai andando mal das pernas. Eu não entendo, absolutamente não entendo. Se ele não acaba de vez com essas aventuras púberes, não se conserta mais. Pois que além de tudo—não podia se conter—noivar com Estrelas é uma grande união! Quantos cometas e astros-reis já não lhes fizeram a corte sem êxito algum? E ainda chegou-me que essas Nuvens são um tanto esquecidas das poesias terráqueas, se comparadas à nobre linhagem metafórica das Estrelas. Imagine o dote!
--È Realmente lamentável, prima. Você tem toda razão. Acho falta de senso deixar enlace tão promissor em busca de aventuras, como diz. E não foi você mesma que me contou que eles andam sempre juntos, dia e noite?, e que essas Nuvens têm ainda por cima a ousadia de encobrir as Estrelas e esconder a Lua?
--Fui eu sim. Do jeito que está, estou pensando em viajar algumas órbitas pra aconselhar esse garoto...
E assim as duas primas Anéisaturno continuaram até o cair da tardinha sideral, tecendo considerações a respeito da conduta juvenil do afastado ente familiar na Província Láctea.

Arvore dos encantos

Acorda levanta resolve
Há uma guerra no nosso caminho
Nos confins do infinito
Nas veredas estreitas do universo
Vejo
As cinzas do tempo
O renascimento
As danças do fogo
Purificação transporte
Escuto
O trovão que escapou
As ladainhas das mulheres secas
Herdeiros do fim do mundo
Isso não é real
Não
Isso não é real
A brotação das coisas
Herdeiros da Tempestade
Girando em torno do sol
Do sol
Girando em torno do sol
Vejo
Aquele cego sorrindo
No nevoeiro da feira
Aquele cego sorrindo
Beijo
A fumaça que sobe
O peito da santa
O cheiro da flor
árvore dos Encantados
Vim aqui outra vez pra tua sombra
árvore dos Encantados
Tenho medo mais estou aqui
Tenho medo mais estou aqui
Aqui Mãe
Aqui meu Pai
Em cima do medo coragem . Recado da Ororubá

terça-feira, setembro 19

coisa besta....

Quem fuma Rei V não gosta de fumar cigarro, é apenas viciado.
na verdade o sol é vermelho
quase sem lua ou mar
não tem sentido ou gracejo
na verdade o que será?

no mais recôndito quarto
do meu flagelado condôminio
procuro os versos sem sentido,
mas sem sentido é o viver

poemas encomendam paz
gracejos por trás da guerra
por trás da tua aurora

gracejos que fluem no assaz
distante e intoxicado
caminho sem tregua jamais...

domingo, setembro 17

Orla da memória.

Quando vim morar na Pituba, em 1997, passei a ouvir as historias que meu pai costumava contar sobre as farras que ele fazia por “essas bandas”. Uisquinho no porta luvas, inseparáveis cigarrinhos, turma reunida, gostava de levar umas moças de carro para passar o dia destilando o lirismo dos areais, “pois era só o que tinha lá pra 69, 70”, dizia, “com umas praias que hoje não se vê mais, não essas que estão aí, todas poluídas!” Não havia melhor lugar pra se esquentar com uma menina do que o Jardim dos Namorado, garantia. E o que se vê agora? Um “Jardim dos Assaltados”. A avenida Manoel Dias nem asfalto tinha!, e hoje?: um adolescente morre a cada semana. A cidade veio feito uma locomotiva de edifícios orla a cima levando tudo o que tinha pela frente. Fiquei meio assustado com aquilo, mas não perguntei por que então nos mudamos diante de tantas inconveniência.
Não faz muito a Prefeitura deu o aval para que construtoras pudessem erguer prédios na orla de Salvador, quer dizer, ela liberou o “gabarito da orla”. Números mínimos de andares? Pensou-se em 4, discutiu-se 5 e até se aceitava 6; fixou-se em 12! O que havia parado em 1980 agora está renascendo de fôlego renovado. Não que a orla que vai do Costa Azul até Itapoã, ainda virgens, seja a Pituba de antigamente, não. E muito menos tenho o costume de ir à praia por lá. Mas já prevejo a herança de meu pai(e dos homens): direi a meu futuro filho, olha, aqui tinha uma pista de barro, mas uma pista tão triste que dava pena; mais pra frente tinha uma borracharia que saía a cerveja mais gelada da cidade!....
Ali um circo lúgubre, mas vivo, muito vivo; na altura do parque toda a meninada da área descia pra soltar papagaio..., certamente direi. Não é a Pituba de antigamente, sei, mas não abro mão de nada.

Frase que não lembro de quem, mas muito boa.

"Antes era Zeus, depois veio Deus, agora sou Eus"

sábado, setembro 16

. paixão

coisa que toma inteira.
existo-te.
ou inexisto?

quinta-feira, setembro 14

o vento de tua varanda
é quente e me faz mal
não suporto ver tua ciranda
tua varanda, teu carnaval...
não mais vejo coisa alguma
do fundo não enxergo direito
não enxergo o teu desespero
não enxergo teu nobre desejo

terça-feira, setembro 12

Viagem de ônibus

Chegaram as deliciosas balas de caramelo com chocolate!
Uma é dez,
Cinco é cinqüenta,
Dez é um real
E 15 é um vale!
-3 mim-
Pessoal, pessoal....
Desculpa incomodar o silêncio da viagem de vocês.
Mas tenho aqui esses lápis que são feitos de silicone.
No armarinho você encontra somente um desses por 50 centavos.
Comigo a senhora leva 6, (seis), de presente pro seu filhinho, sobrinho, netinho por
Apenas 1, (um), real.
Veja! eles entortam, não quebram, tem uma variedade de cores, faz a alegria da meninada!
-5 min-
Desculpa eu estar aqui para tirar o sossego da viagem de todos os passageiros.
Só queria um pouco da atenção de vocês para minha história pessoal, pessoal.
Eu era um drogado, vim de São Paulo fugindo de ameaças,
Fiquei na rua convivendo com o pior tipo de gente,
Cheirava cola, cocaína, bebia cachaça, fumava crack, roubava,
Mas agora, pessoal, posso dizer, estou recuperado, a Casa de Recuperação Faz Milagre Me mostrou que temos um papel na sociedade, uma função, uma missão,
E hoje tenho muitas responsabilidades com o Senhor...
Então, para que nunca acabe o serviço feito pela nossa Casa de Recuperação, para que
Outras pessoas como eu possa deixar de viver na escuridão, quem pudesse contribuir comprando estas canetas com a mensagem da Casa...
-4 min-
Boa tarde.....BOA TARDE!?!?
--Boa tarde, sai lá de trás.
Para não tomar muito o tempo de todos, estou aqui somente para lembrar aos mais avançados nos anos; aos que já passaram dos 65, para lembrar que estamos em período de vacina contra gripe. Vem aí o inverno e a mudança de temperatura espalha pelo ar diversos tipos de vírus e indescritíveis viroses que podem ser fatais para os mais fraquinhos, sabe? Então todos vocês, que têm pais velhinhos, tios, avos, não deixem de lembrar-lhes de ir ao posto de vacinação mais próximo...
-1min.-
Estou pra pedir pra quem pode me ajudar mesmo com pouco de dinheiro pra
Poder pagar o tratamento do meu pobrema das pernas. Esse aqui, para vocês poder ver, é a receita do Dotô, o preço do remédio pra vocês ver...
Eu ainda ajudo minha mãe que tá doente, e a fraqueza nas pernas não deixa eu trabalhar pra ganhar dinheiro pra casa, pra ajudar minha mãe. Qualquer trocadinho serve...
-5 min-
Por favor, os homens queiram me acompanhar descendo do ônibus.
As mulheres podem ficar, não é necessário descerem, nossas policiais as revistarão aqui mesmo.
Não voltei...
(era meu ponto)

sábado, setembro 9

A maconha me faz experimentar a tudo como que pela primeira vez, tecidos, músicas, versos, dinheiro, mulheres..., pois logo depois os esqueço por completo.
façamos mais um soneto?
façamos mais uma bobagem?
iremos contra a corrente?
Neste fim de tarde?

queriamos na verdade paz?
ou na verdade que haja guerra?
entretemo-nos com a liberdade?
ou com nossa calma venerea?

procuraremos respostas agudas,
no quarto deste condomínio,
que não é minha casa?

beijaremos nossos anseios
procuraremos nossas saudades
resistiremos a tempestade?

quarta-feira, setembro 6

mundo magnetico das almas retorcidas

Bloggear no mundo é o que resta
nessa terra de transe e falsas aspirações
mundo caduco que nos aguarda
para poder ter mais um sonho sem razão

poderosas energias confluentes
que sintonizam o sonho e o chão
sensibilidade agudamente muda
que procura por versos como à um trovão

subitamente recheio minha carne de desespero
anseios
vomitos, lamurias e um pão...
retorce a carne bruscamente,
como que se não houvessem mais senões...

Alguem,
no mais recôndito quarto aceso a luz de velas
grita cruamente
pedindo um não?

Sei não, mas retorno ao mundo cheio de lamentações...

terça-feira, setembro 5

decomposicionamento

não se pode dizer nada.
é a mesma mentira, sempre,
vívida e gorda.

num segundo tenho domínio sobre os tons
mas bastam dois suspiros
para ferver meu sangue de barata.

novamente a cabeça trava
novamente o olhar turvao peito se desembesta.
(ex-poetaneo-pedintepós-pensante...)

num segundo tenho domínio sobre os tons
mas bastam dois suspiros
para ferver meu sangue de barata.

ao diabo com tua força de formiga!
teus sorrisos fáceis, sempre,
zombando de minha fé.

teimando em esqueçer;
retrucando, retrucando, retrucando,
o que não pode ser escutado...

mas que conversa é essa?!
como é possível, alías,
ser hipócrita com tamanha veemência?

joelhos de princesa, estes teus,
olhos de cachorro, estes teus,
e que capacidade, inexplicavelmente imbecil...

não se pode dizer nada.
é a mesma mentira, sempre,
vívida e gorda.

donde retiro, luz vacilante,
sonho de tudo-errado:
paciência meu filho.

amanhecer gelado...
possível inquestionável descomeço
me deixe mudo?

fecho os olhos por não ter o direito de ser covarde.
é uma penas, deveras,
que coisa mais ridícula...

7-9-2005 (independencia ou morte)

segunda-feira, setembro 4

carta ao tumulo maior

falta algo meu deus
nesse mundo de tantas guerras e adeus...
fata algo de humano
de puramente pueril
de totalmente senil
falta algo...
deus sinto que me dizem alguma coisa
não sei se é a poesia que lhe escrevo
não sei se é a suplica que lhe faço
não sei se é o desejo mal dissimulado,

meu deus falta alguma coisa no mundo
esse mundo de "fezes, maus poemas e espera"
venera lago que pede perdão
resignificação, serafismo puramenete simples
sobreposto, mal posto
imposto

a sua morte é algo duro pro mundo
seu nome foi embora, e agora?
sinto em dizer que tú eras o grande pai...
ó filosofos do porvir o que fizestes com o mundo?
tem algo de errado no humano e deus morreu
segurem suas calças, afinal
deus morreu...

domingo, setembro 3

Boato que corre à boca pequena no mirante:

A bixa é a raspa do chifre do demônio.

filosofia

Pelo que pude entender, quando Heidegger afirma que o ‘pensar chegou ao fim’, ele quer dizer que o seu objetivo-- a busca pelo sentido existencial do homem, presente neste ato,-- extraviou-se (ou tornou-se impuro, se posso me expressar assim): que ele ganhou outro rumo, que sofreu um desvio em direção ao ambiente acadêmico e por isso mesmo hoje o consideramos como uma atividade cultural e não mais pertencente à essência do homem . Deixamos de pensar e passamos agora a ‘filosofar’ nas universidades. E, desde que mergulhada em técnicas de explicação—o que é característico da produção científica universitária—o pensar se resume então publicamente em ‘ismos’, ou, se ainda posso dizer desse modo, o pensar se populariza em ‘ismos’. E é neste ponto que confesso que a relação que aí existe com a ‘ditadura da opinião pública’ me escapa. O que absorvi nesse sentido foi que Heidegger quer passar que esta ‘ditadura da opinião pública’ surge como uma espécie de bloqueio para o verdadeiro objetivo do ato de pensar; e um bloqueio porque enfrenta obstáculos como a’ linguagem a serviço das vias de comunicação’, o que muitas vezes acorrenta e paralisa a reflexão originária (o ato de pensar em seu estado berçário, antigo, aristotélico), pois o contato com nosso avassalador modo de viver em tempos modernos lhe cortam as asas. È seguindo esse raciocínio que você ,Martim, diz que a busca por um ‘sentido profundo’ da existência humana é refreada, perde força, né?Diante de tanta produção técnica e cientifica que nosso tempo moderno produz, chega a ser anacronismo alguém querer filosofar sobre o sentido da existência humana, pois tudo já está cientificamente comprovado, ou quase tudo, pois o que restou é dispensável....
Mas o que mais me chamou a atenção no seu texto foi a associação que você fez da construção cultural e histórica da humanidade(de onde a partir daí ela busca o sentido existencial de si mesma)—com um tipo de segunda natureza do homem. Isso me fez pensar em muitas coisas. Um achado! E é fato também!: a cultura é uma segunda natureza do homem.
A pouco tempo estava discutindo com minha menina que amo tanto se o egoísmo é inato ao homem; se podemos dizer que essa característica vem antes do coitado nascer ou se é construída de acordo com suas experiências vividas, das mais remotas às mais maduras..Ela dizia que sim, que o homem já nasce com o egoísmo impregnado, que se pode apontar para um bebe de 10 dias e sem dó nem piedade acusá-lo de egoísta; ela argumentou que o instinto de sobrevivência o condiciona a isso, que faz parte da natureza do homem ser egoísta. Achei meio duro aquilo e retornei perguntando-lhe se não seria justamente o viver, o acumular experiências,o entrar em contato com o mundo,enfim, o sobreviver para que se construa um ‘instinto de sobrevivência’? E em seu jeito todo meigo ela me disse que sou construtivista; sei não.... Mas o certo é que eu deveria ter dito a ela que existe no homem uma segunda natureza!, natureza esta que é construída pela experiência cultural vivida em sua historia....

Mas enfim, muito do que conclui é fruto tanto da leitura do texto de Haidegger(texto mais trincado!) como do seu também, Martim. Notei que você se referiu, ao que Haidegger chamou de ‘ato de pensar’, como ‘reflexão originária(...) aquele que nos tira o sono por seu significado paradoxal, ou mesmo aquele que nos impulsiona à construção de uma realidade social diferente para nossos descendentes(…)’, e o enquadrou “enquanto ‘desejo’ essencial da humanidade”, concluindo então que ele está sufocado pelo saber técnico em nosso tempo.
O que queria dizer por ultimo é que me ficou a impressao de uma certa nostalgia por parte desse ato de pensar que voce buscam uma nostalgia redentora( foi o que me pareceu),tendo como referência os antigos filosofos. Nao podemos buscar uma maneira recuperar este ‘ato de pensar’, antigo, mais puro, dentro dos limites do nosso tempo moderno mesmo?, pois voltar a história é impossível.

(agora com minhas proprias palavras...)


Diante da existência, a humanidade procura a si mesma... Com o passar do tempo, guardando lembranças, constroí o edifício da história e mergulha nas águas (salubres?) da cultura. Aquilo que somos, e simultaneamente procuramos, acaba por se transformar de modo imprevisivel: à primeira natureza se sobrepõe uma segunda, e, de alguma forma, a busca parece haver se perdido. Deslumbrada com suas próprias capacidades, e ao mesmo tempo diante da aparente impossibilidade de dar um sentido profundo à sua existência, a humanidade tenta afinal convencer a si mesma de que não existem mais dúvidas sobre seu lugar no cosmos... Na idade da ciência, em que vivemos, qualquer reflexão "filosófica" não passa de uma espécie de anacronismo em vista do "glorioso" advento da civilização.
Na primeira frase e premissa da Metafísica, Aristóteles afirma que "todos os homens desejam ardentemente saber". Mas, afinal, todos desejam saber o quê? Hoje, milênios após os dias em que viveu o filosófo de Estagira, as pessoas tem orgulho de viver na auto-proclamada Sociedade da Informação, como se toda a miséria e ignorância cultivadas sistematicamente não lhes dissesse coisa alguma. Será que é mesmo isso que todos os homens desejam, informação, pura e simplesmente? Mas para quê? Antes de aceitarmos as mesmas soluções definitivas para todas as questões profundas da existência, tal qual nos ensinam nossos contemporâneos, podemos talvez nos questionar se é isto que desejamos ardentemente saber. Ao contrário, o conhecimento hoje em dia tão abundante, não é mesmo aquele que nos tira o sono por seu significado paradoxal, ou mesmo aquele que nos impulsiona a construção de uma realidade social diferente para nossos decendentes, mas um conhecimento dito como, acima de tudo, imparcial e operacional, daqueles que se encontram registrados nos cartórios e enclausurados nas academias. A reflexão em sua experiência originária, o simples pensar da existência enquanto "desejo" essencial da humanidade, permanece sufocada pela hegemonia globalizada do saber técnico...

sábado, setembro 2

Mais uma de cordel do fogo encantado

"...quando a dor se aproxima
fazendo eu perder a calma
passo uma esponja de rima
nos ferimentos da alma...

O espetaculo não pode parar..."
"Quando o pensar chega ao fim, na medida em que sai do seu elemento, compensa esta perda, valorizando-se como telós, como instrumento de formação e, por este motivo, como atividade acadêmica e acabando como atividade cultural. A Filosofia vai transfomar-se em uma técnica de explicação pelas causas últimas. Não se pensa mais; ocupamo-nos de "Filosofia". Na concorrência destas ocupações, elas então exibem-se publicamente como "ismos", procurando uma sobrepujar a outra. O domínio dessas expressões não é casual. Ele reside, e isto paticularmente nos tempos modernos, na singular ditadura da opinião pública. A assim chamada "existência privada" não é, entretanto, ainda o ser-homem essencial e livre. Ela simplesmente crispa-se numa negação do que é público. Ele permanece o chantão dele dependente e alimenta-se somente do recuo diante do que é publico. Ela atesta, assim, contra a sua própria vontade, a sua subjulgação à opinião pública. Ela mesma pórem, é a instauração e dominação metafisicamente condicionadas - porque se originando do domínio da subjetividade - da abertura do ente, na incondicional objetivação de tudo. Por isso, a linguagem põe-se a serviço da meditação das vias de comunicação, nas quais se espraia a objetivação, como acesso uniforme de tudo para todos, com o desprezo de qualquer limite. Deste modo, a linguagem cai sob a ditadura da opinião pública. Esta decide previamente do que é compreensível e do que deve ser desprezado como incompreensível."

-Heidegger, carta sobre o "humanismo" -

quinta-feira, agosto 31

sobre meus pais

faço presente a minha maneira
meu deus quanta poeira?
menina linda tem um nome
menina feia também tem,
mas o desgaste do meu passado
agora
é só um porém

atos falhos, enganos, passados
certezas encalacradas
saudades dilaceradas
meninas más fingidas
meninas boas também

que vida
meu deus tem mais alguém?
pois se tiver diga que não estou,
mas seja sincero;
o homem de verdade e a mulher também
é só mais uma saudade
como todos os outros poréns

terça-feira, agosto 29

Sol e lua

Caminho apressado pela orla sem fim
Com a idéia fixa de ver minha menina;
E, enquanto ando, longe, o sol ilumina
Um rastro de luz que vem do mar até mim.

Vem como tapete espelhado, qual guia,
Segue a gente, acompanha, mais transporta
Do que propriamente ao mar alumia,
Pois leva pra onde tudo me conforta.

E assim, iluminado, vou me lembrando
Do passado, do atraso, do meu quando
Iria florescer em meu peito amador

O que dos livros eu desconfiava amor.
E então retorno com a luz da lua a brilhar,
Sorrindo seu riso branco a confirmar...

segunda-feira, agosto 28

Astrologia

Li no jornal A Tarde , mas me escapa agora o nome da autora do artigo, sobre uma reunião de astrônomos que dentro em pouco decidirá sobre o futuro de Plutão. Sairá dessa conferência se ele continuará ainda com seu status de planeta ou se seria rebaixado para algo como sub-planeta ou satélite, o que também não lembro. Mas uma coisa ou outra, não importa, o que acho curioso nesses assuntos é a relação que aí existe com a astrologia, tema este do mesmo modo explorado no artigo dessa mulher(fico devendo essas informações--compromisso de historiador!). Sendo mais claro e direto ao ponto, para nao me alongar nessa madrugada, o que mais me inquieta nisso tudo é saber se a "astronomia é filha da astrologia", como disse uma renomada astróloga entrevistada nesse artigo(fico devendo mais essa...), ou se ocorre justamente o contrário, ou nem um nem outro..., sei lá.
Plutao é o astro-regente de Escorpiao, de modo que, se rebaixado à categoria de um satélite, por exemplo, ficaria o mapa astral desse signo meio 'perdido no espaço', meio com angústias existenciais, ou de nada interfere essas nomenclaturas saídas de meros consensos humanos?

domingo, agosto 27

prontamente prossigo pensando,
porque posso pensar prontamente;
provavelmente poderia perguntar:
porque penso pensar piamente?

podemos pensar príncipios,
provavelmente puéris,
palavras puramente prolixas;
pensando prover poderís

pintamos perturbadamente,
pretendendo puras poesias,
pensando provar primazias...

porcarias primorosas,
produzem paulatinamente,
poderosos porvires.

quarta-feira, agosto 23

Duelo de máquinas

A luz vermelha acende,parou,o papel prendeu, embolou, não passa mais,o homem abre a máquina, tira-o, amassa-o,joga fora, põe mais papel, fecha a máquina,liga,uma,duas, três folhas mais saem,parece rendição..., a luz vermelha acende,parou,o papel prendeu, embolou,não passa mais,o homem abre a máquina, tira-o,amassa-o,joga fora,põe mais papel,fecha a máquina,liga,uma,duas,três folhas mais saem,parece rendição...,a luz vermelha acende,parou,o papel prendeu,embolou,não passa mais, o homem...que inferno.

terça-feira, agosto 22

soneto a moda antiga

é que sou assim mesmo pequeno
e penso que sou desajeitado
sentidos impostos em seu passo lento
vivo sereno até sua chegada

não me ame quando eu não mais quiser
no fundo eu só quero achar
sentir a tarde ao anoitecer
e o mar quando você não mais me aguardar

serenamente acalme-se baixinho
mais baixo que o nosso amar
mas ama-me de fininho

afinal as coisas boas que acontecem
não são só no ínicio do caminho
e sim no seu mais tardar
"Crer é errar, não crer de nada serve."

Ricardo Reis.
(Por falar nisso...)

domingo, agosto 20

fernando pessoa

Das inúmeras tentativas de se compreender a figura poética de Fernando Pessoa, esse poema de Dummond me pareceu a que chegou mais perto, dispensando toda uma livralhada acadêmica sobre ele.

SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.

Drummond tem um domínio tão íntimo da técnica que, se nao soubesse que esse poema era dele, diria que pertencia a Fernando Pessoa!
Está em seu livro 'Claro enigma', dedicado(se nao me engano)ao próprio Fernando Pessoa.

quarta-feira, agosto 16

Guarajuba.

Semana passada, o caderno de Turismo do jornal A Tarde publicou que Guarajuba, km 42, Estrada do Coco, está crescendo, alarga-se, demanda infra-estrutura e principalmente uma delegacia que afugente os alcaides de fim-de-semana. È preciso. A violência é assustadora, correm-se assaltos, furtos.... e, além disso, segundo a matéria, a hotelaria internacional e seu séqüito de resorts, já nas dunas carregando areias, não pode, em vista da grande injeção de capitais, promoção de empregos e fôlego na economia nacional, deixar que seu dinheiro se perca em terras sem lei.
Passei boa parte de minha infância lá. Costas queimadas de água-viva, pé engessado, pontos internos e externos no joelho, beijos, porres...as primeiras marcas da vida tive-as todas lá. Embora houvesse poucas moradas àquela época, mesmo assim, Guarajuba ainda era um covil de casas abandonadas. Hoje não há mais espaço para nada. Parques, praças e motocicletas ocupam o tempo da meninada.
Lembro-me de íamos eu e meu primo Daniel, munidos com os tacos de sinuca de meu pai, realizar rigorosas autopsias nestes velhos lares abandonados. Pulávamos o muro coberto pelo mato sempre à tardinha. Encontrávamos em quase todas elas uma pilha alta de tijolos no quintal de grama alta: talvez um último suspiro de vida, quem sabe, ou apenas um grande palácio de lagartixas, nada mais. Poucas possuíam churrasqueiras, falta curiosa dos veranistas de outrora. Contudo, certa vez entramos numa casa onde, ao lado do caminho de pedras que atravessava o quintal, havia uma lúgubre churrasqueira agasalhada por emaranhadas Salsaparrilhas que desciam até o chão. Perscrutando o triste local, ao lado da parede de azulejos azuis que pareciam sonho, Daniel encontrou um antigo fole deixado onde se depositava o carvão. Passara-me a cutucar com aquela coisa, provocando, insistente. O que, de pronto, tive de responder à altura com meu taco de sinuca. Duelávamos quando, num infeliz instante, ele fez soprar o fole e toda sorte de insetos voou sobre mim como um chuva negra. Foi preciso tirar rapidamente minha camisa e jogá-la no chão. Atônitos, sacudimo-la de um lado pro outro com os tacos para que os bichos fossem embora. Mas ela ficou tão suja que, lembrando agora, dou risada com a desculpa dada em casa explicando que fôramos roubados e que somente levaram minha camisa. Talvez hoje a desculpa soasse mais convincente...

terça-feira, agosto 15

Marco o tempo
passo
faço o erro escrito
enlaço
com marcapasso
o espaço em que desenho

É meu desenho?

No meio do caminho
enlaço
O espaço escrito entre passos
Me esqueço do caminho passado
E me passo com mal passo
mas me enlaço no teu laço
e esqueço meu desejo

passo no teu passo?
piso no teu piso?
escapo,
mas retorno mal passado
pro enlace do teu voô

domingo, agosto 13

Há sempre um sentido mudo
Há sempre um sonho calado
Há sempre um "estar ao teu lado"
Há sempre um sempre será

Há sempre um sempre na vida
E a vida um sempre será
Até que outro sempre prossiga,
pois pro sempre, sempre será

sexta-feira, agosto 11

Desconfiança onírica

Recostada no canto do quarto, tranqüila, Luana dorme com a cabeça sobre minha calça usada de ontem. De repente enche-me a curiosidade de saber que sonhos se passam por dentro de sono tão sossegado, quieto, pois seria crime onírico que cachorros não sonhassem! Seria descaso imperdoável da natureza, uma falta de senso do criador.
Mas de um jeito ou de outro, contudo, impassível, Luana rosna: uma, duas vezes, outras ainda, e o que intriga é saber se ela está sonhando ou tendo pesadelo. Quer dizer, se está na iminência de confrontar-se com grandes vultos ameaçadores que espreitam o quintal da casa, no ofício da defesa doméstica, ou se está a folgar e rolar na grama com outros de sua espécie... Estes animais reservam quase que exclusivamente para o olhar a ciência da comunicação; a boca... bem, a boca é para o resto. E não digo isso por nada: para se ter uma idéia, depois de velha, ela me passa agora horas a fio mastigando entre os caninos as meias da casa, sujas, pútridas, numa avidez tanto mais encarniçada quanto mais encardidas estejam elas, deixando-as ensopadas, lubrificadas. Talvez seu maior desejo fosse que eu chegasse de cada dez em dez minutos, incansável, com os sapatos encharcados da chuva.
Sem avisar torna a soltar outro rosnado enigmático. Desperta-me curiosidade renovada: seriam minhas meias o motivo da exteriorização de seus sonhos, ou pesadelos?

segunda-feira, agosto 7

Hpótese absurda:primeiro Ìpslon?

Circula pela internet um jogo de passatempo que me fez lembrar Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Não que eu queira fazer-me profeta, e muito menos pertencente aos de linhagem pessimista, não: esta hipótese absurda serve apenas como registro curioso e inquieto, nada além disso.
Mas o que quero dizer é que este passatempo é uma espécie de distração apavorante, indigesto, um puzzle macabro mesmo! Pois o joguinho prende a atenção do internauta ao exigir-lhe a mais religiosa concentração e silêncio na tarefa de levar um pequeno ponto por entre passagens estreitíssimas em direção ao seu destino. È simples e petrifica o olhar no computador. Acontece que em certa altura, fatalmente, de maneira abrupta e estridente, surge na tela a figura do cão encarnado, do demo em pessoa. O susto é inevitável, é traumatizante.
No livro de Huxley, os bebês gerados em incubadoras, tipos de placentas artificiais, são submetidos a sessões de condicionamento emotivo e classista. Durante uma etapa desse processo, os nascidos que estão predestinados a servir nas classes mais inferiores, os chamados Ìpsilons, são induzidos a engatinharem na direção de rosas e livros. Mas quando eles chegam perto o suficiente, quase que os tocando, as crianças levam choques elétricos seguidos de gritos ensurdecedores. Dessa forma criar-se-ia então um bloqueio para sentir e pensar: e assim a estabilidade da sociedade estaria livre de possíveis conturbações que viessem de classes subalternas.
Pois que, assistindo a um vídeo que registrara a reação de um garoto de 5 anos ao tal puzzle macabro, lembrei desta cena apocalíptica criada por Huxley. Talvez uma comparação incoerente, sem pé nem cabeça, mas o susto que a criança levou deixara-a estática, muda, sem reação e certamente, ou será absurdo, mergulhada dentro de um trauma que lhe poderá cortar boa parte de sua personalidade emotiva e civil, quem sabe.... Premonição de um Ipsilon?

domingo, agosto 6

felizes, inocentes, ignorantes,
juízes, dementes, farsantes:
somos uma espécie em ascenção.
e quando formos reis
não haverá sombras ou dúvidas
mentiras ou verdades
orgulho ou remorso
por trás de discursos vazios...

quando formos deuses
todos terão pavor das palavras
que distraidamente concedermos.
e dentre as chamas e o caos virulento em que mergulhará o mundo
não haverá outro motivo para rir.

dá me logo um beijo, meu amor,
acaso existe, em algum lugar,
miséria mais afortunada que a nossa?

sexta-feira, agosto 4

“De um momento para o outro minha vida foi assaltada por indescritíveis blogs*.”
*blog , s. Espaço restrito para um mundo. (Quim.) Metabolismo emotivo compartilhado com o teclado. (Anat.) Disjunção óptica relacionada à exposição prolongada diante do computador. (Bot.) Mangueiras que dão frutos no inverno. (Psi.) Transtornos criativos em estado virtual. (Mat.) Primo distante do log. (Liter.) Só o futuro dirá.

terça-feira, agosto 1

Poeminha idiota de última hora

A sorte passou por mim
Apontou-me um caminho
era contramão
ia dar em multa.

Anadora Andrade

segunda-feira, julho 31

�... o mirante ...�

�... o mirante ...� Recado a Vinícius

Não fica bem a um marmanjo como eu já pra bater os 24 anos ficar por aí aprendendo certas coisas. Dia desses, por exemplo, reuni coragem, envesguei os olhos numa lufada de vento que chegava e, para meu alívio, devo confessar, continuei normal! Já noutro, filosofando com siris na areia sob a sombra agradável dum coqueiro ao meio-dia, quase que recebo um coco na cabeça. E não faz muito tempo me pego a conhecer a obra de Èrico Veríssimo, pra não dizer que o violão me chegou depois dos vinte. È grave, muito grave.
Outro caso foi que mês e pouco atrás estava era eu me entregando com fitinha do Bonfim no pulso e tudo a uma menina linda que só ela. Dessas que um mês é uma década em não dizer-se apaixonado. Dessas que te fazem crer ter encontrado a medida da metáfora para um poeta desprovido de recursos líricos. E eu segui tudo, meu poeta: abri conta no florista, aprendi a cozinhar, olhava-a sempre como minha primeira namorada, tive peito de remador, fui cortês e bom bebedor. Tudinho mesmo. Éramos feito ligação iônica: ninguém perdia. Mas não sei de qual das 32 direções da bússola veio tal borrasca que a tudo levou para longe, mas muito longe.
E disso aprendi a desconfiar de cartilhas Para viver um grande amor, meu Deus! Pois são outros tempos, Vinícius, caro poetinha, são outros tempos, seu bon-vivant de talento maior, são outros tempos...

a lua branca e meus sonhos negros

A lua em estado de graça
Sintoniza o sonho e o chão,
Apesar de nas ruas da desgraça
Converger-se em pueril aflição

sábado, julho 29

então, vai sendo (re)aberto este espaço, para que possamos dividir ideias, textos, besteiras...

"cath a fire"...

quinta-feira, março 23