terça-feira, dezembro 25

terça-feira, dezembro 18

Heráclito, Frag. 26

O homem toca a luz na noite, quando com visão extinta está morto para si; mas vivendo, toca o morto, quando com visão extinta dorme; na vigilia toca o adormecido.

(trad. Emmanuel Carneiro Leão)

sábado, dezembro 15

brisa

por cima
e por baixo
tem sempre um lado maior que o outro

por todos os ladbos
------rostos

para todo o sempre
---aprendizado

para cada ser
----estar

para cada momento
----situação

para cada espaço
---liberdade

para cada riso
------paz

relaxe
sinta a briiiisa que corre no ar
as vezes
os deuses ouvem nossas preces

quarta-feira, dezembro 5

vejam isso por favor... é simplesmente inquietante

http://bacteriabroderagem.blogspot.com/2006/08/caraaaaaalho.html

quinta-feira, novembro 29

Angustia safada

Angustia travada
Por quê?
Não sei nada
Mas me desacata
E redoma-se a mim

Não dizes
Percalsa
Aflora
Desata
E me desacata
Redoma-se a mim

Angustia obtusa
Desflora-me
Abusa
Meirinha
Aplainada
Que me desacata
E redoma-se a mim

Menina calada
Me tira a palavra
Que não se desata
E termina sem fim

Angustia sufoco
Que torna-me louco
Se vá na calada
E deixe-me em mim

menina devolva
Meus versos que rouba
Pois deixando-me louco
Será o seu fim

Angustia venérea
Me deixa sem rédeas
Pois me desacata
E redoma-se a mim

Mas já ta na hora
De ires embora
Angustia safada
Será o seu fim

terça-feira, novembro 13

Jurema
amargo e travoso
Jurema

de introspecto e reflexão
Jurema
cavou fundo em mim

devagar, não leve.
fundo
amargo
travoso
Jurema

não trouxe
não levou
jogou tudo pra cima
e não esperou a poeira baixar

febre duradoura
indigestão

seu veneno qual antidoto
pequenas doses de verdade
Jurema


(e quem (s)eras tu jurema?)

domingo, novembro 11

verbete anti rascismo

Coisa que pouco poeta saca
rimar preto
com branco
e negrura
com águas claras

terça-feira, novembro 6

segunda-feira, novembro 5

trecho de Vanguarda e Subdesenvolvimento de ferreira gullar

Esta etapa da arte política, no Brasil, colocou alguns problemas novos e, de novo, alguns problemas velhos. Destes, o mais importante foi a volta à radicalização cepeciana, à subestimação dos problemas estéticos e culturais em função da denúncia e da propaganda política, que se verificou não apenas em grupos teatrais universitários mas também em grupos profissionais. O outro problema surgido foi o abandono do sentido didático (brechtiano) do teatro político em favor de uma posição irracionalista, que libera o dinamismo das formas cênicas e às vezes atinge o nível da pura e simples agressão ao público. Esta tendência, como a anterior, decorre de uma visão política da situação brasileira, cujo fundo é o revolucionarismo de classe média.

sexta-feira, novembro 2

Considerações sobre alberto caeiro

O que mais achei engraçado na filosofia de Alberto Caeiro, foi a sua criação de um sistema de negações dos sistemas, diria ser um passo infantil para um niilismo afirmador. Talvez ele tenha agido dessa forma para fazer-se entender pelo homem comum ou talvez por impossibilidade de exprimir o inexprimível na língua portuguesa. No fim fica essa incógnita irrelevante. Entretanto, como vinha dizendo, o que realmente me chamou à atenção foi sua boba noção de mundo como “indiferença” se é que me entendem. Na sua indiferença mundana a manifestação da vida era nula, como se o caráter significativo desta fosse um falseamento dela mesma, como se os significados fossem externos as coisas, enfim uma indiferença tacanha pra não dizer Oriental.
O que ele esqueceu é que a sua “indiferença” é um portal significativo como qualquer outro
por onde andará stephen groba?

segunda-feira, outubro 29

tenho a pressa de milhões de anos
corro sem troféu a minha espera

para alguns faltam esperança
para mim - sobra
derramam-me nos poros como em dias de verão
tenho pressa

se ao menos a calma de outrora
pudesse me acompanhar...
aquela que de nada saber

nada preocupar

como o caminho é longo
procuro atalhos
tenho pressa de chegar
tenho a pressa de milhões de anos

me arranho nos espinhos
caio em armadilhas
todas postas por mim
para me sabotar

tenho a pressa de milhões de anos
mas aonde eu quero chegar?

onde eu vivia antes
tinha menos graça
e tinha mais paz
como gotas que transformam tudo em cores

primeiro rir - depois pensar
e agora não tem mais jeito mesmo
se eu soubesse disso antes
(ham)
faria tudo de novo
so que me divertindo mais

tenho pressa
mas começo a cansar

a esperança duradoura
é como a cobra peçonhenta
quanto mais veneno
mais difícil de matar

tenho pressa de estar

procuro meu caminho
que de Tolkien a Schopenhauer
parece mesmo é com Dali
e tenho pressa de enxergar

mas estou cansada
e a estrada é longa
tenho que continuar
c o n ti nuar

quantas vezes cai sem reclamar;
a maldita esperança
de um dia alcançar

vou mata-la a pedradas
(e com sua ajuda agora
tudo fica mais fácil)

tenho pressa
]]]tenho?
]]]pressa

domingo, outubro 7

a nós mesmos

A irrealidade dos fatores não altera o produto
A sinceridade dos clamores não desfaz o absurdo
A fugacidade das verdades não destrói nossas vidas
E a velocidade das mensagens não nos é suicida

Sejamos felizes por termos dentes
E aparelhos pra consertá-los
A verdade é que nossos sonhos
Poderão ser realizados

Falo de nós modernos burgueses encafifados

sábado, outubro 6


...ha algum tempo saiu uma coleção da folha "grandes mestres da pintura". como eles não venderam tudo relançaram alguns numeros. se alguem, em algum lugar da cidade, encontrar a edição de kandinsky por favor me avisa.
ja rodei varios lugares. ;)
ah! em bancas de revista que vende.

terça-feira, outubro 2

Eu declaro
que vós para poderdes viver, deveis vos armar de olhos da cabeça aos pés: não apenas com buracos para os olhos nas vossas armaduras, mas com olhos enormes, abertos, acordados. Olhos nas orelhas, para descobrir tanta falsidade, tantas mentiras, olhos nas mãos, para ver aquilo que os outros não dão e, mais importante, o que tomam, olhos nos braços, para medir vossa capacidade, olhos nas linguas, para pensar o que dizer, olhos no peito, para ajudar a desenvolver a paciencia, olhos no coração, para proteger das primeiras impressões, olhos nos próprios olhos, para ver como eles estão vendo.
Baltasar Gracian - El criticón

terça-feira, setembro 25

watchmen




ficou pequenininho
mas se vcs clicarem na imagem
aumentará até demais
huahuahu

quinta-feira, setembro 13

segunda-feira, agosto 27

precisão

que é quando tu me olha e eu me lembro
e palavra nenhuma precisa não
mesmo quando tu fala, mesmo sem sentido algum
precisa não, e já entendi no tom, calor, compasso, tal
é qualquer coisa
eu e você, e já nem precisamos, quase nunca.
encosta aqui a cabeça no meu peito e os cabelos nas minhas mãos
que a gente dorme num instante
é quase tudo
e quando eu venho com o amor pra te dar
você chega e me dá essa felicidade.

terça-feira, agosto 21

=D (gastando...)

computador
computa - dor
computa - a - dor
com - pu - ta - dor
com - puta - dor

domingo, agosto 19

weiter gehen...

...Enquanto permanecemos no conhecimento intuitivo, tudo é para nós, lucido, seguro, certo. Aqui nem problemas, nem duvidas, nem erros, nenhum desejo, nehum sentimento do além; repousa-se na intuiçao, plenamente satisfeito com o presente. Tal conhecimento basta-se a si mesmo: além disso tudo que dele procede simples e fielmente, como a verdadeira obra de arte, nunca se arrisca a ser falso ou desmentido, visto que ele não consiste em uma interpretação qualquer, ele é a propria coisa. Mas com o pensamento abstrato, com a razão, introduzem-se, na especulação, a duvida e o erro, na pratica, a ansiedade e o arrependimento...

...Além disso, é impossivel chegar a um conhecimento intuitivo e absolutamente evidente da sua propria natureza; a ideia que se pode fazer é ela propria abstrata e discursiva. Seria, pois, absurdo exigir uma demonstraçao experimental, caso se entenda por experiencia o mundo exterior e real, que é apenas representaçao intuitiva: é impossivel colocar essas questoes debaixo dos olhos ou apresenta-las a imaginaçao, como se fossem objetos perceptiveis aos sentidos. Concebem-se, não se percebem , e apenas os seus efeitos podem cair sob o dominio da experiencia...

Schopenhauer - O mundo Como Vontade e Representação

sexta-feira, agosto 17

Devemos sempre dominar a nossa impressão perante o que é presente e intuitivo. Tal impressão, comparada ao mero pensamento e ao mero conhecimento, é incomparavelmente mais forte; não devido à sua matéria e ao seu conteúdo, amiúde bastante limitados, mas à sua forma, ou seja, à sua clareza e ao seu imediatismo, que penetram na mente e perturbam a sua tranquilidade ou atrapalham os seus propósitos. Pois o que é presente e intuitivo, enquanto facilmente apreensível pelo olhar, faz efeito sempre de um só golpe e com todo o seu vigor. Ao contrário, pensamentos e razões requerem tempo e tranquilidade para serem meditados parte por parte, logo, não se pode tê-los a todo o momento e integralmente diante de nós. Em virtude disso, deve-se notar que a visão de uma coisa agradável, à qual renunciamos pela ponderação, ainda nos atrai. Do mesmo modo, somos feridos por um juízo cuja inteira incompetência conhecemos; somos irritados por uma ofensa de carácter reconhecidamente desprezível; e, do mesmo modo, dez razões contra a existência de um perigo caem por terra perante a falsa aparência da sua presença real, e assim por diante. Em tudo se faz valer a irracionalidade originária do nosso ser.

Arthur Schopenhauer, in ''Aforismos para a Sabedoria de Vida'

quinta-feira, agosto 16

um-ltimo copo

o vento sacode as janelas...
(tinha uma idéia presa em minha cabeça.)
podia emcontrar sentido,
podia?
era coisa travosa, amarga,
nem tanto?

cidade agoniza devagarzinho...
(quase que se acredita.)

mas já acabou minha cerveja,
boa noite.

segunda-feira, agosto 13

já passamos dos jogos de palavras
rasgado inebriado
vislumbrando sentidos para demasiadas confusões

soubemos das respostas não ditas -não inteiras- mal interpretadas
voltados para o próprio umbigo, ego sofrido, animal ferido e desconfiado

já encaramos a dor do outro, escondida debaixo da máscara enfeitada e sorridente
dissimulando continentes de pura melancolia

soubemos da busca e da cura mal curada, mal resolvida, ardente, incessante ...
e já vimos a nós mesmos
sem pudores, pormenores...

frágil nossas certezas
rompantes de correr ou se esconder

-me precipício-

ah! minha teimosia,
por você já desconstrui castelos
e de você, eu nada sei...

sábado, agosto 11

Meta linguagem

"Até onde vai a metalinguagem? Nestas horas amargas de lua cheia em que as estrelas nos mostram o passado, me pergunto até onde cabe o falar de si. Não o falar de si tacanho, tal com sou, fui e serei afinal tenho certeza que a trabalhar continuarei... Brincadeiras a parte, há um tom sincero que ressoa em todos os escritores deste lugar: até aonde é sincero o falar de si? É disso que me proponho a dizer neste discurso.
Nos tempos áureos da Coca-Cola a metalinguagem assumiu tamanhos sentidos que se confundiu com o próprio ato de se criar, São tantas "Desconstruções" de conceitos, tantas reformulações do já feito, que sequer sabemos nos colocar no mesmo lugar. Em Salvador da Bahia basta ir ao teatro assistir três companhias diferentes, e poderá ter certeza que verá três idéias diferentes do que é o teatro e do que é o próprio fazer arte, e não falo de mudanças estilísticas apenas, mas sim de reestruturações do próprio fazer arte, se me permitem os Kantianos, da coisa em si. A Primeira vista isto nos parece engraçado e até abobalhado para alguns, mas entretanto os olhos mais aguçados perceberão algo mais profundo, uma mudança eu diria, mas não uma mudança direcionada, e sim uma mudança difusa, nebulosa talvez... Se me permitem o paradoxo, mudança pra lugar algum. Estranho não? E típico do nosso milênio um conceito oco em sua essência que deseja dizer mais do que suas aparências.
A mudança pra lugar algum é tão típica de nossa Pós-modernidade como o pão que comemos o feijão que almoçamos a televisão que assistimos... Mas o que vem a ser tal conceito? O que vem a ser uma mudança pra lugar algum? Digamos esmiuçadamente. É a perda de sentido, é a incessante tendência outrora tecnológica de trocar o novo pelo ainda mais novo, sem um fim que proponha algo verdadeiramente progressista, renovador. A mudança sem ideários que a sustentem, e sim o ideário como sustentação da mudança incessante, o ideario como uma justificativa apenas, como um despesar da consciência. Enfim, é o alucinado ritmo frenético do mudar em nossa sociedade pós-moderna.
E a metalinguagem? a primogênita dos ditos deste discurso é justamente uma das manifestações do ideário que justifica este mudar, sendo mais explicito: é mentira que o justifica, a piada que o acompanha. Nas letras do Marcelo D2 o falar de si assume um sentido modístico em nossa sociedade pós-moderna: o criticar pelo DIZER que crítica e o se afirmar pelo DIZER o que se é, dissocia-se o agir do falar. Nas palavras do pateta: "Eu pego o microfone e vou falando o que eu quiser./ boto a mão nos home vou falando o que eu quiser e ninguém corta a minha onda e vou falando o que eu quiser... e falo mais acompanhado do microfone deixo você pra trás, hip hop raga moorph é o que eu faço...". É o sentido que permeia a metalinguagem no nosso tempo.
Que conclusão tirar? Como bom ser que faz parte do meu tempo afirmo que não sei o que concluir. Seria fácil dizer que a metalinguagem é uma mentira, ou que "estão fazendo um mal uso da metalinguagem", mas tais conclusões moralistas passam longe do buraco que tal discurso nos coloca. Elas mais se aparentam com a visão do bem sempre estar a vencer nas novelas globais. A única conclusão que posso tirar é que é tamanha a loucura do nosso tempo em que uma das mais altas formas de afirmação de si ou de repensar o si, se perdeu em sua essência, aonde isto nos leva? Não sei... Está nos levando..."

terça-feira, julho 31

domingo, julho 22


...depende do ponto de vista...

quinta-feira, julho 12

trecho do trabalho sobre Heráclito: "À experiência da origem"

O pensamento, em sua morada própria, em seu fazer-se primordial, arcaico, parece ser, para a cultura dominante sempre um mal-estar. Deveras, não é nada fácil distinguir os sinais de cura e/ou adoecimento de cada febre; mas, além disto (já que hoje em dia somos tão bem-informados) a questão parece ser que se for permitido a qualquer um que pense livremente, não demorará muito a que se pronunciem "por aí" estes "tipos" de pensamentos "livres e desagradáveis", causando um mal-estar coletivo e, consequentemente, perigoso. Segundo Freud, trocamos imensas possibilidades de contentamento por muito pouca segurança. É certo que, apesar de todas as conquistas do tão festejado desenvolvimento da civilização técnico-científico-industrial, os seres humanos continuam com a mesma, e cada vez mais exacerbada, percepção de si e da natureza enquanto objetos a serem dominados... Esta é a desmesura (Hybris), que parece acompanhar e se desenvolver junto com a história do pensamento no Ocidente, a história do esquecimento do Ser. O pior dos incêndios, talvez exatamente por permanecer imperceptível a arrogância humana. É preciso obedecer, isto é, é preciso estar à escuta e à espera do inesperado - fazer a cama em suas proximidades, pré-parar todo o fluxo do pensamento para, enfim, deixar o extraordinário brilhar e presentificar-se aonde sempre já esteve: no ordinário. Afinal, como alguém poderia manter-se encoberto face ao que nunca se deita?

quarta-feira, julho 11

Ela me risca o braço
Desenhando um coração
E nele preenche o espaço
Com seu nome em vão.

Ela nem lembra o refrão
Da letra que lhe escrevi
Mas todo dia uma canção
Ela pede para mim.

Não me tem como artista
Nem aposta em meu nome
Diz que sou idealista
Bate o caixa e some.

Ela me tem de graça
E me diz não resista
Mas por qualquer boa praça
Me troca feito cambista.

E faz sem embaraço
Quando me chama a sós
E diz que falta um pedaço
Que una a gente em nós.
Ela me risca o braço
Desenhando um coração
E nele preenche o espaço
Com seu nome em vão.

Ela nem lembra o refrão
Da letra que lhe escrevi
Mas todo dia uma canção
Ela pede para mim.

Não me tem como artista
Nem aposta em meu nome
Diz que sou idealista
Bate o caixa e some.

Ela me tem de graça
E me diz não resista
Mas por qualquer boa praça
Me troca feito cambista.

E faz sem embaraço
Quando me chama a sós
E diz que falta um pedaço
Que una a gente em nós.

segunda-feira, julho 9

Uma foto em preto e branco.
Uma foto antiga, não confunda.
Um pelourinho se ergue à direita.
As copas das árvores confundem-se num bloco opaco.
Uma estrada de barro afunila-se em direção à igreja.
Galhos secos, filamentos sem seiva, surgem do infinito sobre a paisagem.
Atrás há o mar, esse ser monstruoso e mais antigo que a igreja.
Toda foto em preto e branco foi tirada no dia invernoso de 9 de julho.
Foto-de-inverno.
Os galhos seguramente deveriam agitar-se como num conto de Poe.
A nuvem—mais antiga que o mar?—também faz parte da foto, pronta para a chuva.
Mas ela não vem.
E o coqueiro, como um imenso pavio, corisca palmeiras para todos os lados.

domingo, julho 8

sessão poetisas - em homenagem às mulheres =)

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei.
E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.
Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst

quarta-feira, junho 27

filosofia da ciência

meu despertador emitiu um mandato de prisão contra mim.
deus me livre de toda essa gente préocupada com a verdade.

terça-feira, junho 26

Mediador de gerações,
Ponto neutro entre pólos,
Não sabe se vai ou se fica:
É poeta, mas com receio.

Recebe e dá cascudo,
Leva e traz segredos,
Não é muito confiável
E usa sempre de rodeios.

As tias asseguram
Que está predestinado
A mais daninha vida:
Raiz dos problemas alheios.

Mas é craque de bola
E anda de bicicleta
Sem pôr as mãos
E sem usar os freios.

Nasce assim poeta,
Cresce como criança,
Justiça seja dada
Ao filho do meio.

terça-feira, junho 19

Reino das palavras(acho que tem o que contribuir a essa discussão)

Lá se vaga, como fica
Em novos versos, velha briga
Entre ideias e palavras,
Desbravantes empreitadas
A procura de saída

Lá se enrosca, como vem
Versos belos em poréns
Precedente dificultar
Consoante ao poetar

Lá poesia se instalou
Cansou do mundo
Que a deixou,
Mas deste a chave para alguns

E lá há um mundo de palavras
Vagas, sutís, ousadas
Que navegam e até se entregam,
À poetas que às conquistam

sexta-feira, junho 8

ser poeta

Desconfio que sou poeta:
Na mente guardo o que vivo,
No peito fecho-o bem contido
Pra soltá-lo quando me aperta.

Às vezes me acho um pateta
Frente a essa vida vivida,
Pois maior é roçar na ferida
Do que senti-la com asceta.

Basta ver essa poesia agora
Sobre um sentimento outrora
Passado, mas que hoje me acerta.

Veio-ma num dia de Domingo,
Passou a semana me seguindo
E ainda a vejo meio incompleta.

domingo, maio 13

( )

não é um querer-te, assim, este querer
é um não querer-te, querendo, assim de longe
e mesmo perto: sorrindo e vivendo e
__________________amando-te.

não quero-te em raio, espaço-tempo, ou constante física
mas logo que pulsas-me o peito, o umbigo, a vagina
constante.mente (e) pulsa o corpo inteiro.

meu não querer-te quero, o quanto posso
aqui dentro de mim, que hei de (vi)ver-te
e assim, de tanto não-te e ter-te,
__________________tenho.

terça-feira, maio 8

mas para onde ir? que lugar capaz de cessar essa ansiedade?
havera desejo realizado ou graça alcançada que deixe esse ser menos passivo de tanta inquietude?
ah! breves momentos de refuguio a embriaguez.
pois nem nos delirios encontro a paz.
quem dera
fosse pelo que fosse
vagar a esmo
ou com destino
tudo parece igual a ontem no final das contas

quantos livros terei de ler sem encontrar respostas?
quantas bocas beijar...?
busca infinita, ciclo vicioso, rousseau ja sabia disso e nem por isso desistiu de tentar...

terça-feira, abril 24

a náusea

"Existo. É suave, tão suave, tão lento! E leve: dir-se-ia que flutua no ar por si só. Mexe-se. São leves toques, por todo lado, toques que se dissolvem e se desvanecem. Suavemente, suavemente. Há uma água espumosa em minha boca. Engulo-a, ela desliza por minha garganta, acaricia-me - e eis que renasce em minha boca, tenho perpetuamente na boca uma pequena poça de água esbranquiçada - discreta - que roça minha língua. E essa poça também sou eu. E a língua também. E a garganta sou eu."


(a náusea, pág 152. jean-paul sartre)

domingo, abril 22

aproveitando o clima pessimista...

"- Ninguém pode julgar senão por si mesmo - pronunciou ele enrusbescendo. - Haverá toda a liberdade quando for indiferente viver ou não viver. Eis o objetivo de tudo.

- Objetivo? Nesse caso é possível que ninguém queira viver?

- Ninguém - pronunciou de modo categórico.

- O homem teme a morte porque ama a vida, eis o meu entendimento - observei -, e assim a natureza ordenou.

- Isso é vil e aí está todo o engano! - Os olhos dele brilharam. - A vida é dor, a vida é medo, e o homem é um infeliz. Hoje tudo é dor e medo. Hoje o homem ama a vida porque ama a dor e o medo. E foi assim que fizeram. Agora a vida se apresenta como dor e medo, e nisso está todo o engano. Hoje o homem ainda não é aquele homem. Haverá um novo homem feliz e altivo. Aquele para quem for indiferente viver ou não viver será o novo homem. Quem vencer a dor e o medo, esse mesmo será Deus. E o outro Deus não existirá.

- Então, a seu ver o outro Deus existe mesmo?

- Não existe, mas ele existe. Na pedra não existe dor, mas no medo da pedra existe dor. Deus é a dor do medo da morte. Quem vencer o medo e a morte se tornará Deus. Então haverá uma nova vida, então haverá um novo homem, tudo novo... Então a história será dividida em duas partes: do gorila à destruição de Deus e da destruição de Deus...

- Ao gorila?"


F. Dostoiévski, Os Demônios

terça-feira, abril 17

para um blog silencioso...

Ângulo

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? —
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído...

— Barcaças dos meus ímpetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de Segredo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao roxo, a que rochedo?...

Ó nau de festa, ó ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também, ou porventura,
Fundeaste a Oiro em portos de alquimia?...
............................................................
Chegaram à baia os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram...
As bandeiras velaram-se, orações...

Detive-me na ponte, debruçado.
Mas a ponte era falsa — e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar à sua beira...

Mario de Sá Carneiro


ainda mario de sá...

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar..
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mario de Sá Carneiro

sábado, março 31

“Por toda a parte, o homem, expelido da Verdade do ser, gira em torno de si mesmo como o animale rationale[1]


“Aqui se tem em mira a possibilidade de a civilização mundial, assim como apenas agora começou, superar algum dia seu caráter técnico-científico-industrial como única medida da habitação do homem no mundo. Esta civilização mundial certamente não o conseguirá a partir dela mesma e através dela, mas, antes, através da disponibilidade do homem para uma determinação que a todo momento, quer ouvida quer não, fala no interior do destino ainda não decidido do homem.
Igualmente incerto permanece se a civilização mundial será em breve subitamente destruída ou se se cristalizará numa longa duração que não resida em algo permanente, mas se instale, muito ao contrário, na mudança contínua em que o novo é substituído pelo mais novo.”[2]


[1] M. Heidegger. Sobre o Humanismo, Pág.67
[2] M. Heidegger. O fim da Filosofia e a tarefa do pensamento, Pág.99

sexta-feira, março 30

Procura-se

Onde está a poesia
Efusivamente
Seu desencontro pôs-se a aparecer
Ante aos homens,
Necrófilos inquestinaveis da esperança

Encimesmadas palávras ainda
Permeiam humana vida,
Que se esvai
A aurora de permanecer, irrevogavelmente,
Hipócrita

Poesia fartou-se humanamente
Da humanidade.

Em vão poetas tentaram apazigua-la,
Mas seus argumentos foram precisos
Seus motivos inquestionaveis
E sua atitude mordaz.
Trancou-se lancinantemente
No reino das palavras, e lá
Fechou-se com alguns
Poetas mortos.

Fechada para o mundo
Poesia pôs-se a vislumbrar
Seu atual espetaculo:
cercada de letreiros torpes
Conversas fulgazes
Contos inoperados.
Poesia dignou-se a sentir pena,
Mas sem revogar seu desmundo impermeavel

Fadigou-se em brochuras
Perante píncaros
De tenaz insensatez,
Permeante o dia-a-dia.
Que prossegue ordinariamente,
Surpreendendo a cada instante
Homens e mulheres desesperançosos
Ante a falta de Poesia.

agda

CAVO. Constância. Fundura de dez braçadas. De quanto? Caracóis. Lodo na cara. Tenho ares de alguém semi-sepulto. Um ouro que não vem. Nem o reflexo. Bom que seria luz amarelada dourando caracóis, as larvas, a minha mão. Bom que seria recompor palavras, cruzá-las, dizer da luz filtro cintilante facetado, dizer do escuro entranha apenas, dizer da busca o que ela é, buscador e buscado, revelar os dois lados, aqui te vês, aqui sou eu te vendo, a órbita gozosa estilhaçando medos, aqui quando eras criança sobre a murada, escondendo a cara, luz te crestando a pupila, pálpebra violeta se encolhendo, braço antebraço vértice do cotovelo apontando aquela que te fotografas.

- hilda hilst

sexta-feira, março 23

rolamento

olhares turvos
ondulações ousadas
sorriso sínico
leveza calada

e foi assim que a noite se seguiu

como que um tempero picante
de sinistra musica interpolada

ela mulher eu homem
ela Homem eu mulher
naquele momento os papéis se invertiam
tamanha loucura do quer e não quer

e assim as coisas prosseguiam
como que uma bossa bem cantada
os sons sequer convergiam,
mas a harmonia sempre vingava

Mas como em um desenlace tudo se acabou
e assim voltamos pra casa
felizes com o que brotou

C A OS;Hakim Bey Capítulo de"Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico"

O CAOS NUNCA MORREU. Bloco não-lapidado primordial, único monstro venerável, inerte e espontâneo, mais ultra-violeta do que qualquer mitologia (como as sombras frente à Babilônia), a original e indiferenciada unidade-do-ser ainda se irradia serena como as flâmulas negras do Assassinos, aleatória & perpetuamente intoxicada.O Caos surgiu antes de todos os princípios de ordem & entropia, não é nem um deus nem um verme, seus desejos insensatos circundam & definem todas as coreografias possíveis, todos os éteres & flogistons: suas máscaras são cristalizações de seu próprio rosto inexistente, como nuvens.Tudo na natureza é perfeitamente real, incluindo a consciência; não há absolutamente nada com o que se preocupar. Não apenas os grilhões da Lei foram quebrados; eles nunca existiram: demônios nunca vigiaram as estrelas, o Império nunca se iniciou, Eros nunca deixou a barba crescer.Não, ouça, o que aconteceu foi o seguinte: eles mentiram para ti, venderam-te idéias de bem & mal, fizeram-te perder a confiança em teu próprio corpo & sentir vergonha por teus dons de profeta do caos, inventaram palavras de desprezo para teu amor molecular, te hipnotizaram com distrações, te entediaram com a civilização & todas suas emoções usurárias.Não há transformação, nem revolução, nem luta, nem caminho; já és o monarca de tua própria pele — tua liberdade inviolável espera para ser completada apenas pelo amor de outros monarcas: uma política de sonho, urgente como o azul do céu.Para desfazer todos os direitos & hesitações ilusórios da história, é necessária a economia de uma lendária Idade da Pedra: xamãs ao invés de padres, bardos ao invés de senhores, caçadores ao invés de policiais, coletores dotados de preguiça paleolítica, gentis como sangue, saindo nus por aí ou pintados como pássaros, equilibrados na onda da presença explícita, o agora-e-sempre atemporal.Agentes do caos deitam olhares flamejantes sobre qualquer coisa ou pessoa capaz de prestar testemunho à sua condição, à sua febre de lux et voluptas. Estou desperto apenas naquilo que amo & desejo ao ponto do terror: todo o resto é apenas mobília coberta, anestesia cotidiana, merda na cabeça, tédio subreptiliano de regimes totalitários, censura banal & dor inútil.Avatares do caos agem como espiões, sabotadores, criminosos do amour fou, nem generosos nem egoístas, acessíveis como crianças, educados como bárbaros, esfolados por obsessões, desempregados, sensualmente tresloucados, lobos angelicais, espelhos para contemplação, olhos como flores, piratas de todos os signos & sentidos.Cá estamos nos arrastando pela rachaduras nos muros da igreja estado escola & fábrica, todos os monólitos paranóides. Cortados da tribo por uma nostalgia furiosa, escavamos em busca de palavras perdidas, bombas imaginárias.O último feito possível é aquele que define a percepção em si, um invisível cordão dourado que nos conecta: dança ilegal nos corredores do tribunal. Se eu te beijasse aqui eles chamariam isso de ato de terrorismo: vamos então levar nossas pistolas para a cama & acordar a cidade à meia-noite, como bandidos bêbados celebrando com uma fuzilaria a mensagem do gosto do caos.

sexta-feira, março 16

arcano XVI - a torre

"Sofrer é trabalhar para desembaraçar-se da Matéria, é revestir-se de imortalidade."

(tarô adivinhatório. ed. pensamento)

quarta-feira, março 14

...que belas e doces palavras...
sim, palavras cheias de dor e formosura
quase acreditei que eram minhas - as palavras
vagando entre ego e receio
inconstancia poetica de um ser sem perdão

porque o vazio pesa tanto?
porque me olhas da janela
se essa casa não tem portas?

ah! essa fuga também prisão...

sábado, março 10

vinham por outro lado as idéias,
mansas, que de beber água,
de sentir sono,
de caminhar a esmo,
pegavam carona nas nuvens
compunham-se fôrmas de música:
um estampido alto, debaixo da cama,
debruçada, minha coisa nova,
minha novidade esvoaçante
em pele de laranja-pêra
ah, motivos e idéias e motivos e idéias
para tantos dias quaseamesmacoisa
(não consigo parar, por favor, não respire!)
se houvesse tempo
“valsa vienense”
memória de elefante...
“você veio”?
outro dia, né?
minhas opiniões de bronze
em sua cruelrência devirada
não tem botões, nem alavanca, nem significado...
vamos mentir que foi bonito,
vamos?
zero na cabeça: caixa de ressonância para encher de vinho.
dois no coração: tímpano rubro de escolhas inexplicáveis.
robozinho de feijão-verde
onde caíram minhas íris?
onde, onde espalharam-se minhas palavras?
que, por outro lado, vinham
germinando nas poças d’água suja?
(não respire, por favor, não respire...)

segunda-feira, março 5

não conto mais os dias. vem,
cuidamos um do outro
se o sol nos alegrará e as horas...
as horas não me importam.
desculpa se eu não deixo. olha,
que até gosto quando me tomas sem pedir
os sonhos em outra praia
muito longe...
esquece os outros, me ajuda
eu deixo você pegar.
toma-me de novo. esquece!
esquece...
esquece...
aumenta o volume dessa música?
se o sol nos alegrará e as horas...
preciso ir
não me devolveram ainda.



{se desisto, sonho. se esqueço, ouço.
quem me dera às vezes ser cega e ser surda
ao invés de muda aos teus orgãos.}
CAMINHADA


Eu vinha aquela tarde pela terra
Fria de sapos...
O azul das pedras tinha cauda e canto.

De um sarã espreitava meu rosto um passarinho.
Caracóis passeavam com róseos casacos aos sol.
As mãos cresciam crespas para a água da ilha.

Começaram de mim a abrir roseiras bravas.
Com as crinas a fugir rodavam cavalos
investindo os orvalhos ainda em carne.

De meu rosto viam ribeiros...

Limpando da casa-do-vento os limos
no ar minha voz pisava...


Manoel de Barros, Cômpendio para uso de Pássaros
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregorio de Matos

sábado, março 3

Sem coordenada "M"

não, meu deus!
não pode ser verdade...
o homem senhor do espaço,
morreu por sua vaidade

em cindir o nivelar dos astros
esqueceu sua respiração
e assim sem mais florestas
vive a espreita de uma nave mãe

vivendo a custa dos outros
ladrão interplanar
outrora senhor do espaço
agora no seu limiar

quarta-feira, fevereiro 28

Confissão

Ela,
Que me vem com mãos de Fevereiro
E com seios tão pequenos, plúmbeos,
Atrasando-me ao deixar sua casa;
Ela,
Que leva no rosto uma macieira
Que me obriga a parar e matar a fome;
Ela,
Que ergue no dorso
Volteado em marfim
Duas pernas jônicas,
Maior expressão da arte clássica;
Ela
Nem sabe
(e nem sei se conto:
será que o amor gela?)
Mas é o umbigo,
Onde ponho meu ouvido,
O que mais me atrai nela.

quinta-feira, fevereiro 22

serpentinas e confetes
abram alas o carnaval quer passar
com sua corda humana a multidão segregar
de um lado os que não podem
do outro os que devem pagar

serpetinas e confetes
erguem-se os camarotes
ocupando os espaços com gente do mundo inteiro
contanto que tenha dinheiro

serpetinas e confetes
olha quanta alegria
disfarçando a agonia
desse nosso dia-a-dia

terça-feira, fevereiro 20

coordenada m

cindindo o nivelar dos astros
encerra-se a comunhão,
o Homem, agora,
senhor do espaço,
conjuga seu verbo em vão

encrespa seu sonhar nas veias
de aeronaves interplanares.
Afunda-se nos mais altos mares
de estrelas em vastos lugares

aprofunda-se em estudos insidiosos
que lhe prometem mundos à palma da mão
e assim em um encejo que lhe é próprio
semeia um sem fins de vozes que imperarão

mas no quarto do antigo planeta terra
(agora área "x" coordenada "m")
antigos devaneios voltam a funcionar.
Pergunta-se o porque das coisas

- que coisas?
Diz o homem interplanar

segunda-feira, fevereiro 12

A Gruta Azul

Dizem que na Gruta Azul o tempo pára
E que a queda-d’água da pequena cascata
Levanta arco-íris feéricos
Que incendeiam os instintos.
Dizem que das plantas nectaríferas
Emanam bálsamos etéreos
E que os duendes não roubam os becks alheios.
Dizem que na Gruta Azul
Os beijos e dentadas se equivalem
Sob o espelho no teto
Que transparece as inspirações celestes.
Ouvi dizer que era até criatório de poesia!
E não minto: corre o boato de que a cerveja é por conta da casa!
Dizem que não há telefone,
Que nunca falta comida
E que no rádio só dá 3x0 pro Bahia!
Povoada por ninfas tricolores
Dizem os mais assíduos do lugar!
Que lugar é esse?
Não sei. Nunca fui.
Mas ainda vou lá.

domingo, fevereiro 11

Conversa de bêbado.

--Mas como que cavalo não deita?
--Você já viu cavalo deitado?
--É claro!
--Ah, não, não é cavalo!È jegue, burro, égua, pé-duro... o que for, mas cavalo não pode ser!
--Você tá achando que eu tô le mentindo? Pra quê vou querer le discordar.
--Eu sei, mas é que cavalo nunca deita!
--Ôôôxi, você tem um carro e tem que mudar as peças, tem o óleo, tem que calibrar os pneus. E a gasolina?! E cavalo não vai deitar? Qual é!?
--Você já viiiiiu cavalo deitado?
--Já, eu já não le disse!?
--Onde?
--Perto de casa!
--Onde você mora?
--Em Armação!
--Não pode ser!
--Você sabe onde eu moro?
--Não é isso. È que cavalo não deita em lugar nenhum.
--Vá lá em casa um dia e eu le mostro. Tem um terreno baldio que vira-e-volta tem uns cavalos pastando e os mais cansados tá lá dormindo.
--Mas cavalo dorme em pé!!
--Mas esse dorme deitado, dorme dormindo!
--Essa eu quero ver!
--Uma vez eu vi na televisão que um desses milionários que tem esses cavalos que custam milhões e que é de corrida quando uma vez o bicho quebrou a perna sabe o que aconteceu?
--Aí tem que matar o bicho!
--Não, aí se enganou! O cara era tão rico que pagou tudo pro cavalo ficar bom.
--E ele voltou a correr?
--Não, mas conservou o trote.
--E o que isso tem a ver com cavalo deitar?
--Eu sempre soube que tem que matar o bicho quando ele quebra a perna, mas esse ficou vivo!
--E aí?Prossiga!
--Então cavalo pode deitar!
--Mas oxi, como assim?
--Venha cá, deixe lê dizer: cavalo nasce em pé e morre em pé?
--Não, pera aí.....ele deita 10% ou menos da vida.
--Ahhhhh...
--E quando tá doente.
--Ahhhh, por que não disse?
--Você não queria saber!
--Então ele deita!
--Pode ser...

sexta-feira, fevereiro 9

Amor mudo.

Semente do amor intercalado,
Calado, entre os pólos do vácuo,
Germina no silêncio do espaço
Colhendo rosas apenas pelo tato.

terça-feira, fevereiro 6

a lua

Há madrugadas em que a lua vem como luz no fim do túnel da noite, negaceando, e você só quer chegar o mais cedo possivel no outro lado.
Ah, mas às vezes vem bem fininha como um cílio, atraindo, seduzindo sua presença até o esgotamento matinal.
Já noutras aparece pela metade, mais prum lado ou mais pro outro, desnorteada, bêbada, falando besteira e até chata.
E tem noites que nem aparece, de ressaca lunar.

domingo, fevereiro 4


Pedi licença poética
e joguei uma pedra no carro
palavra paralelepípedo
difícil de usar em canção...

Anadora Andrade

sábado, fevereiro 3

com citações de cordel

O amor não pode morrer,
mas falta espaço pra ele
vive-se de tal forma que a sua forma de expressão
é na verdade um limiar de depuração

"o amor comeu todos os meus cartões de visita"

não sinto-me constrangido em dizer que te amo
não,
na verdade à amo demais
e a culpa dessa merda toda
é a absoluta falta de humanidade dos nossos pais

"o amor comeu todos os papéis onde escrevera meu nome"

Na poesia encontramos calma
mas tanta calma que que me deixa irritado
pois a calma que encontramos
é a calma das almas encalacradas

Ama-me, Ana!

Ai,Ana!
Ama-me,
Minha’na!
Ama-me
La mañana,
La semana,
Na cama
Descama-me
Mas não leves,
Leviana,
Não leves
Minha antologia
Drummoniana,
Ana!
Ah, Ana,
Anatômica,
Juro,
Por Sant’ana,
Nunca
Desencanarei,
Sempre
Continuanarei
Capítulo
De sua Analogia,
Mas,
Ah, Ana,
Não sejas sacana:
Ama-me!

terça-feira, janeiro 30

mas... como?
ainda não haviam palavras,
do rebuliço em minha cabeça,
ainda não haviam imagens?!
]
se possuo, ensanguentado,
meu próprio sono
minha própria casa
antes de me perder...?

e nos momentos em que desapareço
já imaginaste
que tipo de vento me carrega?

desculpe, tenho mesmo pressa...
à poesia não importa os papéis
e à cabeça não importa o poema.

(siga o coelho branco...)

gostava de deixar escorrer entre os dedos...
por um princípio, quase abstrato,
não posso conter meus sorrisos...
explica, vai
não era tudo tão simples?
de noite, esquina, por acaso?
...

quem diabos inventou esta palavra?

segunda-feira, janeiro 15

Sequelado amor II

Tenho de acabar de vez
Com essa pressa de te ver
Que me esquece o guarda-chuva,
Por causa dessa insensatez
Meu Deus, nem quero dizer:
Já resfriei, gripei, em suma,
Caí de cama um dia ou três
Com essa pressa de te ver
Que me esquece o guarda-chuva.
Pois se isso torna a acontecer,
Ah, esses dias me viram mês!
A saudade vai pras alturas!
A tristeza volta a entristecer!
Eu fico que nada me cura!
E assim, por ficar sem te ver,
Na cama encolhido a tremer,
Descorado e quase sem tez,
Que é castigo pela culpa
De insistente insensatez,
Acumulo o querer te ver
Que me cresce a ponto de esquecer
O danado do guarda-chuva

sexta-feira, janeiro 12

verbos: transitivos diretos, indiretos ou não

sorrir, correr, comer, sofrer, ter, poder, colher, escolher, saber, torcer, distorcer

armar, chorar, cair, morar, soltar, partir, voar, sonhar, durmir, acordar

crer, perder, entender, perceber, pensar, concretizar, dividir, compartilhar, desapegar, pegar, calar, colar, esperar

recortar, costurar, criar, recriar, morrer

viver, deixar, viver

Poesia, amor, origami.

Quero a primeira poesia do ano cheia de esperanças,
Esperanças de uma nova poesia.
Simples como convém a uma poesia que deve abrir o ano,
Simples como essa vitamina de banana que tomo agora,
Com pedaços da fruta bem grandes como esses,
Pra que com isso ninguém venha tergiversar se poderia ser de outra fruta.
Não, é de banana. Está claro que é de banana. Não vê?
Uma poesia simples.
Mas a simplicidade do mais delicado origami.
Um origami que a um leve toque se desmanche em nuvem e daí venha a tarde.
Por que o amor é simples e é embaraçado como o origami.
Quando um atrasa, depois é a vez do outro.
Um não liga, amanhã não há ligações.
Um tem ciúme, ah, e se o outro não retorna esse ciúme então...
Se um diz talvez, o outro diga sim.
Tudo que nem as dobras do origami: vá pular uma pra você ver o que acontece.
Dobra aqui, acolá, liga uma ponta com outra, deixa uma orelha de papel pro fim...
Origami é coisa complicada.
E a poesia vai-se fazendo nova por entre as dobras desse objeto que se desmancha em nuvem

quinta-feira, janeiro 11

ouvi dizer: mente vazia, casa do diabo.
mas a minha nunca chega a estar realmente vazia; o diabo já está sempre à sua porta.
ORQUESTRA INVISÍVEL:
“SABIÁ COM TREVAS”
dias 16 e 30 de janeiro e 6 de fevereiro (terças)
Teatro Sesi, Rio Vermelho 20:30
R$:5 e 10

De onde vem aqueles ruídos, aquelas palavras?... Para onde estariam indo, nos levando? A música que se presentifica, que brota do invisível, onde começa e onde termina sua orquestra? São por acaso nos tímpanos, que lhes produzem e acolhem, na pisada de nossos ancestrais, no borbulhar das ruas? Sem dúvida, espécie de vazadouro para contradições, buscamos imergir em sua força vital, e, como parte de um fractal, escutar e dizer em consonância. Encruzilhada entre diferentes modos de ser, abertura para a experiência do inesperado, dizem ainda daquilo que está em volta, invisível porque visível. A cada dia, permeada de novas palavras, novas vozes, novas experiências, nova música. Mas... de onde é que ela vem?

domingo, janeiro 7

O vassoureiro

Cantos escuros no quarto. Teias.
O vento espalha as cinzas do cigarro.
Os livros estão cobertos por poeira
Acumulada de meses sem trato.

A noite não concede raios
Que denunciam pós voadores,
E a acumulação do fungo vário
È cega a olhos sem cores.

È manhã: vou dormir sem ar...
Mas a aurora anuncia novo meio:
Olha o vaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaasoureiro.