quarta-feira, fevereiro 28

Confissão

Ela,
Que me vem com mãos de Fevereiro
E com seios tão pequenos, plúmbeos,
Atrasando-me ao deixar sua casa;
Ela,
Que leva no rosto uma macieira
Que me obriga a parar e matar a fome;
Ela,
Que ergue no dorso
Volteado em marfim
Duas pernas jônicas,
Maior expressão da arte clássica;
Ela
Nem sabe
(e nem sei se conto:
será que o amor gela?)
Mas é o umbigo,
Onde ponho meu ouvido,
O que mais me atrai nela.

quinta-feira, fevereiro 22

serpentinas e confetes
abram alas o carnaval quer passar
com sua corda humana a multidão segregar
de um lado os que não podem
do outro os que devem pagar

serpetinas e confetes
erguem-se os camarotes
ocupando os espaços com gente do mundo inteiro
contanto que tenha dinheiro

serpetinas e confetes
olha quanta alegria
disfarçando a agonia
desse nosso dia-a-dia

terça-feira, fevereiro 20

coordenada m

cindindo o nivelar dos astros
encerra-se a comunhão,
o Homem, agora,
senhor do espaço,
conjuga seu verbo em vão

encrespa seu sonhar nas veias
de aeronaves interplanares.
Afunda-se nos mais altos mares
de estrelas em vastos lugares

aprofunda-se em estudos insidiosos
que lhe prometem mundos à palma da mão
e assim em um encejo que lhe é próprio
semeia um sem fins de vozes que imperarão

mas no quarto do antigo planeta terra
(agora área "x" coordenada "m")
antigos devaneios voltam a funcionar.
Pergunta-se o porque das coisas

- que coisas?
Diz o homem interplanar

segunda-feira, fevereiro 12

A Gruta Azul

Dizem que na Gruta Azul o tempo pára
E que a queda-d’água da pequena cascata
Levanta arco-íris feéricos
Que incendeiam os instintos.
Dizem que das plantas nectaríferas
Emanam bálsamos etéreos
E que os duendes não roubam os becks alheios.
Dizem que na Gruta Azul
Os beijos e dentadas se equivalem
Sob o espelho no teto
Que transparece as inspirações celestes.
Ouvi dizer que era até criatório de poesia!
E não minto: corre o boato de que a cerveja é por conta da casa!
Dizem que não há telefone,
Que nunca falta comida
E que no rádio só dá 3x0 pro Bahia!
Povoada por ninfas tricolores
Dizem os mais assíduos do lugar!
Que lugar é esse?
Não sei. Nunca fui.
Mas ainda vou lá.

domingo, fevereiro 11

Conversa de bêbado.

--Mas como que cavalo não deita?
--Você já viu cavalo deitado?
--É claro!
--Ah, não, não é cavalo!È jegue, burro, égua, pé-duro... o que for, mas cavalo não pode ser!
--Você tá achando que eu tô le mentindo? Pra quê vou querer le discordar.
--Eu sei, mas é que cavalo nunca deita!
--Ôôôxi, você tem um carro e tem que mudar as peças, tem o óleo, tem que calibrar os pneus. E a gasolina?! E cavalo não vai deitar? Qual é!?
--Você já viiiiiu cavalo deitado?
--Já, eu já não le disse!?
--Onde?
--Perto de casa!
--Onde você mora?
--Em Armação!
--Não pode ser!
--Você sabe onde eu moro?
--Não é isso. È que cavalo não deita em lugar nenhum.
--Vá lá em casa um dia e eu le mostro. Tem um terreno baldio que vira-e-volta tem uns cavalos pastando e os mais cansados tá lá dormindo.
--Mas cavalo dorme em pé!!
--Mas esse dorme deitado, dorme dormindo!
--Essa eu quero ver!
--Uma vez eu vi na televisão que um desses milionários que tem esses cavalos que custam milhões e que é de corrida quando uma vez o bicho quebrou a perna sabe o que aconteceu?
--Aí tem que matar o bicho!
--Não, aí se enganou! O cara era tão rico que pagou tudo pro cavalo ficar bom.
--E ele voltou a correr?
--Não, mas conservou o trote.
--E o que isso tem a ver com cavalo deitar?
--Eu sempre soube que tem que matar o bicho quando ele quebra a perna, mas esse ficou vivo!
--E aí?Prossiga!
--Então cavalo pode deitar!
--Mas oxi, como assim?
--Venha cá, deixe lê dizer: cavalo nasce em pé e morre em pé?
--Não, pera aí.....ele deita 10% ou menos da vida.
--Ahhhhh...
--E quando tá doente.
--Ahhhh, por que não disse?
--Você não queria saber!
--Então ele deita!
--Pode ser...

sexta-feira, fevereiro 9

Amor mudo.

Semente do amor intercalado,
Calado, entre os pólos do vácuo,
Germina no silêncio do espaço
Colhendo rosas apenas pelo tato.

terça-feira, fevereiro 6

a lua

Há madrugadas em que a lua vem como luz no fim do túnel da noite, negaceando, e você só quer chegar o mais cedo possivel no outro lado.
Ah, mas às vezes vem bem fininha como um cílio, atraindo, seduzindo sua presença até o esgotamento matinal.
Já noutras aparece pela metade, mais prum lado ou mais pro outro, desnorteada, bêbada, falando besteira e até chata.
E tem noites que nem aparece, de ressaca lunar.

domingo, fevereiro 4


Pedi licença poética
e joguei uma pedra no carro
palavra paralelepípedo
difícil de usar em canção...

Anadora Andrade

sábado, fevereiro 3

com citações de cordel

O amor não pode morrer,
mas falta espaço pra ele
vive-se de tal forma que a sua forma de expressão
é na verdade um limiar de depuração

"o amor comeu todos os meus cartões de visita"

não sinto-me constrangido em dizer que te amo
não,
na verdade à amo demais
e a culpa dessa merda toda
é a absoluta falta de humanidade dos nossos pais

"o amor comeu todos os papéis onde escrevera meu nome"

Na poesia encontramos calma
mas tanta calma que que me deixa irritado
pois a calma que encontramos
é a calma das almas encalacradas

Ama-me, Ana!

Ai,Ana!
Ama-me,
Minha’na!
Ama-me
La mañana,
La semana,
Na cama
Descama-me
Mas não leves,
Leviana,
Não leves
Minha antologia
Drummoniana,
Ana!
Ah, Ana,
Anatômica,
Juro,
Por Sant’ana,
Nunca
Desencanarei,
Sempre
Continuanarei
Capítulo
De sua Analogia,
Mas,
Ah, Ana,
Não sejas sacana:
Ama-me!