terça-feira, julho 31

domingo, julho 22


...depende do ponto de vista...

quinta-feira, julho 12

trecho do trabalho sobre Heráclito: "À experiência da origem"

O pensamento, em sua morada própria, em seu fazer-se primordial, arcaico, parece ser, para a cultura dominante sempre um mal-estar. Deveras, não é nada fácil distinguir os sinais de cura e/ou adoecimento de cada febre; mas, além disto (já que hoje em dia somos tão bem-informados) a questão parece ser que se for permitido a qualquer um que pense livremente, não demorará muito a que se pronunciem "por aí" estes "tipos" de pensamentos "livres e desagradáveis", causando um mal-estar coletivo e, consequentemente, perigoso. Segundo Freud, trocamos imensas possibilidades de contentamento por muito pouca segurança. É certo que, apesar de todas as conquistas do tão festejado desenvolvimento da civilização técnico-científico-industrial, os seres humanos continuam com a mesma, e cada vez mais exacerbada, percepção de si e da natureza enquanto objetos a serem dominados... Esta é a desmesura (Hybris), que parece acompanhar e se desenvolver junto com a história do pensamento no Ocidente, a história do esquecimento do Ser. O pior dos incêndios, talvez exatamente por permanecer imperceptível a arrogância humana. É preciso obedecer, isto é, é preciso estar à escuta e à espera do inesperado - fazer a cama em suas proximidades, pré-parar todo o fluxo do pensamento para, enfim, deixar o extraordinário brilhar e presentificar-se aonde sempre já esteve: no ordinário. Afinal, como alguém poderia manter-se encoberto face ao que nunca se deita?

quarta-feira, julho 11

Ela me risca o braço
Desenhando um coração
E nele preenche o espaço
Com seu nome em vão.

Ela nem lembra o refrão
Da letra que lhe escrevi
Mas todo dia uma canção
Ela pede para mim.

Não me tem como artista
Nem aposta em meu nome
Diz que sou idealista
Bate o caixa e some.

Ela me tem de graça
E me diz não resista
Mas por qualquer boa praça
Me troca feito cambista.

E faz sem embaraço
Quando me chama a sós
E diz que falta um pedaço
Que una a gente em nós.
Ela me risca o braço
Desenhando um coração
E nele preenche o espaço
Com seu nome em vão.

Ela nem lembra o refrão
Da letra que lhe escrevi
Mas todo dia uma canção
Ela pede para mim.

Não me tem como artista
Nem aposta em meu nome
Diz que sou idealista
Bate o caixa e some.

Ela me tem de graça
E me diz não resista
Mas por qualquer boa praça
Me troca feito cambista.

E faz sem embaraço
Quando me chama a sós
E diz que falta um pedaço
Que una a gente em nós.

segunda-feira, julho 9

Uma foto em preto e branco.
Uma foto antiga, não confunda.
Um pelourinho se ergue à direita.
As copas das árvores confundem-se num bloco opaco.
Uma estrada de barro afunila-se em direção à igreja.
Galhos secos, filamentos sem seiva, surgem do infinito sobre a paisagem.
Atrás há o mar, esse ser monstruoso e mais antigo que a igreja.
Toda foto em preto e branco foi tirada no dia invernoso de 9 de julho.
Foto-de-inverno.
Os galhos seguramente deveriam agitar-se como num conto de Poe.
A nuvem—mais antiga que o mar?—também faz parte da foto, pronta para a chuva.
Mas ela não vem.
E o coqueiro, como um imenso pavio, corisca palmeiras para todos os lados.

domingo, julho 8

sessão poetisas - em homenagem às mulheres =)

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei.
E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.
Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst