sábado, agosto 11

Meta linguagem

"Até onde vai a metalinguagem? Nestas horas amargas de lua cheia em que as estrelas nos mostram o passado, me pergunto até onde cabe o falar de si. Não o falar de si tacanho, tal com sou, fui e serei afinal tenho certeza que a trabalhar continuarei... Brincadeiras a parte, há um tom sincero que ressoa em todos os escritores deste lugar: até aonde é sincero o falar de si? É disso que me proponho a dizer neste discurso.
Nos tempos áureos da Coca-Cola a metalinguagem assumiu tamanhos sentidos que se confundiu com o próprio ato de se criar, São tantas "Desconstruções" de conceitos, tantas reformulações do já feito, que sequer sabemos nos colocar no mesmo lugar. Em Salvador da Bahia basta ir ao teatro assistir três companhias diferentes, e poderá ter certeza que verá três idéias diferentes do que é o teatro e do que é o próprio fazer arte, e não falo de mudanças estilísticas apenas, mas sim de reestruturações do próprio fazer arte, se me permitem os Kantianos, da coisa em si. A Primeira vista isto nos parece engraçado e até abobalhado para alguns, mas entretanto os olhos mais aguçados perceberão algo mais profundo, uma mudança eu diria, mas não uma mudança direcionada, e sim uma mudança difusa, nebulosa talvez... Se me permitem o paradoxo, mudança pra lugar algum. Estranho não? E típico do nosso milênio um conceito oco em sua essência que deseja dizer mais do que suas aparências.
A mudança pra lugar algum é tão típica de nossa Pós-modernidade como o pão que comemos o feijão que almoçamos a televisão que assistimos... Mas o que vem a ser tal conceito? O que vem a ser uma mudança pra lugar algum? Digamos esmiuçadamente. É a perda de sentido, é a incessante tendência outrora tecnológica de trocar o novo pelo ainda mais novo, sem um fim que proponha algo verdadeiramente progressista, renovador. A mudança sem ideários que a sustentem, e sim o ideário como sustentação da mudança incessante, o ideario como uma justificativa apenas, como um despesar da consciência. Enfim, é o alucinado ritmo frenético do mudar em nossa sociedade pós-moderna.
E a metalinguagem? a primogênita dos ditos deste discurso é justamente uma das manifestações do ideário que justifica este mudar, sendo mais explicito: é mentira que o justifica, a piada que o acompanha. Nas letras do Marcelo D2 o falar de si assume um sentido modístico em nossa sociedade pós-moderna: o criticar pelo DIZER que crítica e o se afirmar pelo DIZER o que se é, dissocia-se o agir do falar. Nas palavras do pateta: "Eu pego o microfone e vou falando o que eu quiser./ boto a mão nos home vou falando o que eu quiser e ninguém corta a minha onda e vou falando o que eu quiser... e falo mais acompanhado do microfone deixo você pra trás, hip hop raga moorph é o que eu faço...". É o sentido que permeia a metalinguagem no nosso tempo.
Que conclusão tirar? Como bom ser que faz parte do meu tempo afirmo que não sei o que concluir. Seria fácil dizer que a metalinguagem é uma mentira, ou que "estão fazendo um mal uso da metalinguagem", mas tais conclusões moralistas passam longe do buraco que tal discurso nos coloca. Elas mais se aparentam com a visão do bem sempre estar a vencer nas novelas globais. A única conclusão que posso tirar é que é tamanha a loucura do nosso tempo em que uma das mais altas formas de afirmação de si ou de repensar o si, se perdeu em sua essência, aonde isto nos leva? Não sei... Está nos levando..."

Um comentário:

Anônimo disse...

-Perfeito!
Noemi Silva