quinta-feira, dezembro 21

Não volte

Ah, capitão de longo curso,
solitário centro
na auréola do horizonte
que,com navalhas de alísio,
realizais a necropsia
do imorredouro oceano
em busca de flores caídas
em jardins abissais!
Vós, que carregais um coração
despelado pelo sol,
lembrança em formol
do que ficou no cais;
que guiais sem timão
sem sequer olhar para trás,
aonde vais assim negando
a natureza de vossos ancestrais?
Para onde?
Estais perdido, singrando
por entre latitudes
de periecos sem estrelas,
sem norte, errando sobre as vagas
sem espumas do oceano,
como se dessa ausência buscásseis
a calmaria da montanha tibetana.
Que procurais?
Não achastes em aniversários em terra?
Duvidastes da pessoa
por trás do olho mágico?
O florista não arrancara
os espinhos ao vender-lhe a rosa?
Ah, sois muito fraco!
E é difícil dizê-lo, bem sabeis.
Não te quero, capitão.
Morra no mar, só,
O sal lha fará bem.