domingo, setembro 3

filosofia

Pelo que pude entender, quando Heidegger afirma que o ‘pensar chegou ao fim’, ele quer dizer que o seu objetivo-- a busca pelo sentido existencial do homem, presente neste ato,-- extraviou-se (ou tornou-se impuro, se posso me expressar assim): que ele ganhou outro rumo, que sofreu um desvio em direção ao ambiente acadêmico e por isso mesmo hoje o consideramos como uma atividade cultural e não mais pertencente à essência do homem . Deixamos de pensar e passamos agora a ‘filosofar’ nas universidades. E, desde que mergulhada em técnicas de explicação—o que é característico da produção científica universitária—o pensar se resume então publicamente em ‘ismos’, ou, se ainda posso dizer desse modo, o pensar se populariza em ‘ismos’. E é neste ponto que confesso que a relação que aí existe com a ‘ditadura da opinião pública’ me escapa. O que absorvi nesse sentido foi que Heidegger quer passar que esta ‘ditadura da opinião pública’ surge como uma espécie de bloqueio para o verdadeiro objetivo do ato de pensar; e um bloqueio porque enfrenta obstáculos como a’ linguagem a serviço das vias de comunicação’, o que muitas vezes acorrenta e paralisa a reflexão originária (o ato de pensar em seu estado berçário, antigo, aristotélico), pois o contato com nosso avassalador modo de viver em tempos modernos lhe cortam as asas. È seguindo esse raciocínio que você ,Martim, diz que a busca por um ‘sentido profundo’ da existência humana é refreada, perde força, né?Diante de tanta produção técnica e cientifica que nosso tempo moderno produz, chega a ser anacronismo alguém querer filosofar sobre o sentido da existência humana, pois tudo já está cientificamente comprovado, ou quase tudo, pois o que restou é dispensável....
Mas o que mais me chamou a atenção no seu texto foi a associação que você fez da construção cultural e histórica da humanidade(de onde a partir daí ela busca o sentido existencial de si mesma)—com um tipo de segunda natureza do homem. Isso me fez pensar em muitas coisas. Um achado! E é fato também!: a cultura é uma segunda natureza do homem.
A pouco tempo estava discutindo com minha menina que amo tanto se o egoísmo é inato ao homem; se podemos dizer que essa característica vem antes do coitado nascer ou se é construída de acordo com suas experiências vividas, das mais remotas às mais maduras..Ela dizia que sim, que o homem já nasce com o egoísmo impregnado, que se pode apontar para um bebe de 10 dias e sem dó nem piedade acusá-lo de egoísta; ela argumentou que o instinto de sobrevivência o condiciona a isso, que faz parte da natureza do homem ser egoísta. Achei meio duro aquilo e retornei perguntando-lhe se não seria justamente o viver, o acumular experiências,o entrar em contato com o mundo,enfim, o sobreviver para que se construa um ‘instinto de sobrevivência’? E em seu jeito todo meigo ela me disse que sou construtivista; sei não.... Mas o certo é que eu deveria ter dito a ela que existe no homem uma segunda natureza!, natureza esta que é construída pela experiência cultural vivida em sua historia....

Mas enfim, muito do que conclui é fruto tanto da leitura do texto de Haidegger(texto mais trincado!) como do seu também, Martim. Notei que você se referiu, ao que Haidegger chamou de ‘ato de pensar’, como ‘reflexão originária(...) aquele que nos tira o sono por seu significado paradoxal, ou mesmo aquele que nos impulsiona à construção de uma realidade social diferente para nossos descendentes(…)’, e o enquadrou “enquanto ‘desejo’ essencial da humanidade”, concluindo então que ele está sufocado pelo saber técnico em nosso tempo.
O que queria dizer por ultimo é que me ficou a impressao de uma certa nostalgia por parte desse ato de pensar que voce buscam uma nostalgia redentora( foi o que me pareceu),tendo como referência os antigos filosofos. Nao podemos buscar uma maneira recuperar este ‘ato de pensar’, antigo, mais puro, dentro dos limites do nosso tempo moderno mesmo?, pois voltar a história é impossível.

5 comentários:

tgroba disse...

Como é que diminui a letra como voce fez, martim?

tgroba disse...

relendo agora gostaria de acrescentar uns 'que' ali, umas virgulas aqui, outras palavras que acabei comendo... mas no fim o texto me agradou. consertar o nome de Heidegger.......
valeu pessoal

Gabriel Carvalho disse...

concerteza groba, o pensar se populariza em "ismos", tornando-se mais uma manifestação niilista da vontade de potência, no sentido em que a coloca no ser-para-o-outro...

martim disse...

rendeu, ein?
:)

tentando manter o fio da meada... acho que sim, groba, talvez o mais perigoso em toda essa perspectiva seja uma certa nostalgia a uma experiencia "antiga" de pensamento. Eh um problema comum a quase todas as interpretacoes pessimistas... mas, pessoalmente, eu acredito que, mesmo criados pela cultura, somos capazes de voltar nosso pensamento para as questoes profundas (e paradoxais) da realidade, se tivermos coragem... o que fica como "fato", porem, eh que vivemos em uma estrutura social esmagadora que faz com pensar seja demasiado custoso para que naum atrapalhe o "sucesso" de cada individuo... naum podemos, nem devemos querer reverter a historia, mas podemos ao menos a tentar re-criar...

a cultura eh uma segunda natureza para do ser humano, sim, mas toda primeira natureza jah foi uma segunda... essencial pode ser tudo aquilo que sustenta a realidade enquanto sentido ("a existencia precede a essencia"). Facamo-nos a mesma pergunta que levou Heiddeger a escrever a tal carta: devemos nos considerar "humanistas"?


(a opcaum de diminiuir a letra fica no proprio editor de post, em cima...)

sobre a vontade de potencia biel, continuamos um outro dia, certo? ainda tem muito para falar...

Gabriel Carvalho disse...

tranquilo cara
relaxe