domingo, setembro 3

(agora com minhas proprias palavras...)


Diante da existência, a humanidade procura a si mesma... Com o passar do tempo, guardando lembranças, constroí o edifício da história e mergulha nas águas (salubres?) da cultura. Aquilo que somos, e simultaneamente procuramos, acaba por se transformar de modo imprevisivel: à primeira natureza se sobrepõe uma segunda, e, de alguma forma, a busca parece haver se perdido. Deslumbrada com suas próprias capacidades, e ao mesmo tempo diante da aparente impossibilidade de dar um sentido profundo à sua existência, a humanidade tenta afinal convencer a si mesma de que não existem mais dúvidas sobre seu lugar no cosmos... Na idade da ciência, em que vivemos, qualquer reflexão "filosófica" não passa de uma espécie de anacronismo em vista do "glorioso" advento da civilização.
Na primeira frase e premissa da Metafísica, Aristóteles afirma que "todos os homens desejam ardentemente saber". Mas, afinal, todos desejam saber o quê? Hoje, milênios após os dias em que viveu o filosófo de Estagira, as pessoas tem orgulho de viver na auto-proclamada Sociedade da Informação, como se toda a miséria e ignorância cultivadas sistematicamente não lhes dissesse coisa alguma. Será que é mesmo isso que todos os homens desejam, informação, pura e simplesmente? Mas para quê? Antes de aceitarmos as mesmas soluções definitivas para todas as questões profundas da existência, tal qual nos ensinam nossos contemporâneos, podemos talvez nos questionar se é isto que desejamos ardentemente saber. Ao contrário, o conhecimento hoje em dia tão abundante, não é mesmo aquele que nos tira o sono por seu significado paradoxal, ou mesmo aquele que nos impulsiona a construção de uma realidade social diferente para nossos decendentes, mas um conhecimento dito como, acima de tudo, imparcial e operacional, daqueles que se encontram registrados nos cartórios e enclausurados nas academias. A reflexão em sua experiência originária, o simples pensar da existência enquanto "desejo" essencial da humanidade, permanece sufocada pela hegemonia globalizada do saber técnico...

6 comentários:

Gabriel Carvalho disse...

a relexão como ato de pensar "pura e simplesmente" a existência não implicaria em cria-la? criar possibilita o desejo e o desejo possibilita a atividade cultural, pq todo desejo é o desejo do outro, não é mesmo? Assim não foi socrates que acabou com a grecia classica e com a atividade de pensar...
Concordo que os "ismos" destroem a filosofia, assim falta comunhão não mais um formação da vontade de potência... Afinal está não seria a guerra?"E aja a guerra e aja guerra, guerra no ar..."(Foguete de Reis(ou a guerra- cordel do fogo encantado))

Gabriel Carvalho disse...

mudando de assunto vc ainda joga rpg martim? pq eu tou meio parado e queria voltar a jogar um pouco...
se for nenhuma de ideia

Gabriel Carvalho disse...
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Gabriel Carvalho disse...

salubre pode ser cura, como pode ser degeneração, como o clã, em vampiro: guia dos jogadores(que só tem um i em vez do e)...
concordo plenamente que a cultura é uma via de mão dupla, afinal os registros que compõe a arte(ético, estético e político), exemplo de formação cultural, sempre é traído quando colocado em contato com o outro(pelo menos um desses registros), ou seja a atividade cultural é sempre depurativa, mas nesse aspecto o que seria da vida humana sem a depuração? foi através dela que freud chegou ao nirvana(estado pleno de aceitação no estar no mundo)... entretanto ainda assim o nirvana é cindido pq consiste na separação entre "eu-mundo"...ou pode ainda ser pior, acontecendo o que vc bem falou, a atividade humana como objetificação do humano, separação sujeito-objeto...

Assim fico com a relação de plena força de aceitação em ser o mundo, a tradição oriental, ou ainda o suingue dos africanos... O pai-de-santo, será que é ele que faz as profecias? ou é o uno? È a velha história da comunhão...sair das repetições e entrar na eternidade

Raiça Bomfim disse...

Gostei muito do texto, Martim! E concordo. A sociedade atual parece ter-se perdido na distinção entre "saber" e "informação" e entre "formação" e "intrução". Uma sociedade que parece "satisfeita" quando se sente instruída e informada à respeito das diversas descobertas da ciência e parece não questionar, investigar e suspeitar sobre qual o papel, qual a importância e quais os danos que essas descobertas provocam no nível mais profundo da existência humana. A filosofia parece ter sido restringida à história de antigos filosofos. E dessa forma, a nossa própria "existência" fica comprometida à medida que o homem vai deixando de ter noção do que seja isso.

Raiça Bomfim disse...

Ah... E acho que a cultura não tem culpa nenhuma, coitada. Até porque o ser humano não existe sem cultura! Nessas horas é importante lembrar que ainda na barriga da mãe, o bebê já escuta o mundo exterior e, portanto, já recebe informações "culturais" (como a língua materna, por exemplo) sobre ele. Um ser isolado (ou seja, sem cultura) não pode nem se quer ter noção de que existe, e portanto não existe... Não há ser humano sem cultura!
Mas entendo que quando você fala nos riscos dessa cultura, está se referindo a uma "massificação" do pensamento e a subjugação do indíviduo pelo coletivo... isso sim, comcordando com você, acredito ser o grande risco!